A estranha “amnésia” de Messias
Conceição Lemes VIOMUNDO
Em relação ao desmentido de Roberto Messias, secretário-executivo da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom-PR), gostaríamos de dizer:
2. Messias disse, sim, em duas ocasiões que queria ver Henrique Pizzolato na prisão. Pizzolato é um dos condenados na Ação Penal 470, o chamado mensalão. O STF julgou irregular, crime, o BV (Bonificação por Volume) da Visanet. Embora já esteja demonstrado que o dinheiro é privado e não público, Pizzolato corre o risco de ir para a cadeia.
A primeira manifestação foi na presença da ministra-chefe da Secom-PR, a jornalista Helena Chagas, que ficou em silêncio absoluto, e de Fabrício Costa, secretário de Comunicação Integrada do órgão.
A segunda, após a entrevista, já fora do gabinete de Helena Chagas. Foi numa sala próxima, no mesmo andar, enquanto esta repórter aguardava Fabrício Costa que iria mostrar algumas tabelas de investimentos de publicidade a pedido da própria ministra.
Foi, aí, que conversamos novamente. Messias repetiu que queria a prisão de Pizzolato. E ao ser perguntado se os dois haviam trabalhado juntos no Banco do Brasil (BB), confirmou com a cabeça.
Depois – e isto está na reportagem –, um antigo funcionário do BB, ainda na ativa, precisou: “Roberto Messias nunca trabalhou diretamente com Pizzolato, apenas indiretamente. Na época em que Pizzolato ocupou a diretoria de Marketing do BB, o Cláudio Vasconcelos era o gerente-executivo de Propaganda e Marketing e o Messias, gerente de Mídia, subordinado a Cláudio”.
3. Em nenhum momento da matéria foi dito que Messias era filiado ao PSDB ou a qualquer outro partido político.
O que foi dito é que ele começou a alçar vôo no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e que, nesse processo, houve a influência de Cláudio de Castro Vasconcelos.
Em 1999, Cláudio saiu do Centro Cultural Banco do Brasil – Rio de Janeiro (CCBB-RJ), para ser o gerente-executivo de Propaganda e Marketing na Diretoria de Comunicação e Marketing do BB, em Brasília. Na época, o presidente do Banco do Brasil, era Paolo Zaghen, muito ligado a José Serra (PSDB), e Pedro Malan, o ministro da Fazenda.
4. No Banco do Brasil, todo funcionário de carreira passa por concurso público. Portanto, ao dizermos que era funcionário de carreira isso estava implícito. Roberto Messias foi, sim, do Centro Cultural do Banco do Brasil.
5. Em nenhum momento da matéria foi dito que Roberto Messias teve qualquer tipo de contato com o Cláudio de Vasconcelos após este sair do Banco do Brasil em 2005.
Por que a sua preocupação de dizer que “Desde 2005, não tive sequer nem um único contato, pessoal ou profissional, com ele [Cláudio de Castro Vasconcelos]“?
Também não foi dito que havia outro tipo de relacionamento entre ambos além do profissional. Foi dito apenas que eram amigos e Cláudio, chefe do Messias.
6. Não procede a informação de que, antes de ir para a Secom, não teve ligação profissional com qualquer pessoa citada na reportagem.
Em 2005, o Conselho de Administração do Banco do Brasil determinou uma auditoria interna no processo de gestão do Fundo de Incentivo Visanet, para apuração de fatos ocorridos de 2001 a 2004 nas diretorias de Marketing e Varejo do BB. O trabalho foi de 20 de dezembro de 2005 a 10 de janeiro de 2007.
Documentos do BB comprovam que Yole Mendonça, ex-secretária executiva da Secom, Fabrício Costa e Messias trabalhavam juntos, por exemplo, na época em que a auditoria interna foi concluída, em 28 de fevereiro de 2007.
Ou seja, os três eram da Diretoria de Marketing e Comunicação do Banco do Brasil, em Brasília.
Yole era a gerente-executiva. Messias, gerente de Divisão, seu subordinado, assim como Fabrício, gerente de divisão em substituição e assessor sênior da Diretoria de Marketing e Comunicação BB.
A auditoria interna também prova que Cláudio de Castro Vasconcelos era gerente-executivo da Diretoria de Marketing e Comunicação do BB, à época da apuração dos fatos. Portanto, chefe de Messias e Fabrício.
O que significa que todos ficaram subordinados a Henrique Pizzolato, a partir de 17 de fevereiro de 2003, quanto este assumiu a Diretoria de Marketing e Comunicação do BB.
A auditoria interna revela ainda que, na época da apuração dos fatos (2001 a 2004), Yole Mendonça era gerente-executiva do Centro Cultural Banco do Brasil-RJ.
Abaixo, os gerentes dos centros culturais do Banco do Brasil em 17 de abril de 2003.
Yole é a única mulher da foto. Ela substituiu Cláudio Vasconcelos no CCBB-RJ e depois na gerência em Brasília.
Válter Vasconcelos (na foto ao lado da de Yole) era o gerente-executivo do CCBB-SP; ele precedeu Cláudio Vasconcelos na gerência do CCBB-RJ.
Conclusão: Messias insiste no papel de “neutro”, “apolítico”. Um funcionário que paira sobre todos e tudo, chegando ao ponto de negar a conversa que tivemos após a entrevista.
Curiosamente, ele se “esquece” de que disse, na presença da ministra Helena Chagas e de Fabrício Costa, que queria Pizzolato na prisão.
Mais uma vez Messias, como faz em relação ao critério de distribuição de verbas publicitárias do governo federal, recorre a um discurso estritamente “técnico”, o da sua reputação “técnica”, para fazer política.
Esquece, por exemplo, de que ao investir R$ 580 mil no Bolsa de Mulher, um site machista, sexista, que trata a mulher como objeto, é uma decisão política. Só que Messias o considera “bacaníssimo”.
Vale a pena, aqui, repetir o trecho da nossa entrevista com Helena Chagas, que, por sinal, nunca tinha ouvido falar no Bolsa de Mulher. A ministra comentava os 20 maiores investimentos da internet em 2012:
– Os 20 primeiros sites, ano a ano. 2011 e 12, que são os mais recentes. Você tem os grandes naturalmente. Carta Maior está entre os 20, Conversa Afiada,Bolsa de Mulher. Quem é o Bolsa de Mulher?
– É um bacaníssimo – entusiasma-se Messias.
– É um site feminino – adiciona Fabrício.
– Bacaníssimo… – insiste Messias.
– Eu nem conheço… – diz a ministra.
– E é bacaníssimo – repete Messias.
– É bacaníssimo, porque tem campanha segmentada para pegar mulher… – adere a ministra.
– Câncer de mama, o Dia Internacional da Mulher…– acrescenta Messias.
“O discurso ‘técnico’ justifica os fins. Com isso, eles ‘torturam’ a justificativa técnica para fazer o que querem”, afirma NaMaria, do blog NaMaria News. “No bojo das soluções técnicas está um modelo de negócio, que privilegia uma ação entre amigos.”
“Geralmente, esses profissionais ‘técnicos’ não são escolhidos aleatoriamente. Alguns fazem concurso, outros são nomeados, entram pelo famoso QI (quem indica) “, prossegue NaMaria. “Lá dentro, os técnicos cumprem e geram ordens, aceitam ou recusam determinações. Ou seja, ou vestem a camisa, e aí vale qualquer jogada. Ou começam a notar coisas esquisitas, a perceber que a camisa é menor ou é do time errado. Estes estão ferrados.”
É o mecanismo do modelo de negócio, onde tudo é justificado pela ” técnica”. Tudo é “produto” e os meios justificam os fins.
“Só que na prática esse discurso ‘técnico’ não corresponde à expectativa. Exemplo disso é o esquema de propina da Siemens, que existe há muitos anos nas compras do metrô e trens do Estado de São Paulo e que só agora foi ‘descoberto’, alerta NaMaria. ”Todo o esquema de corrupção da Siemens, envolvendo pessoas do PSDB, foi feito com justificativas ‘técnicas’ e meios legais, como licitações, concorrências, etc.”
“O mesmo acontece na Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, onde a FDE [Fundação para o Desenvolvimento da Educação] gasta milhões de reais na compra de assinaturas de jornais, revistas e outras publicações da Globo, Abril, Estadão, Folha“, completa NaMaria (veja AQUI e AQUI).” Só que a verdade é outra. São justificativas torturadas pelo ‘técnico’ para fazer valer o vontade e o interesse dele, do seu grupo ou dos seus chefes.”
Seguramente eu, Conceição Lemes, não faltei com a verdade. Agora, se eventualmente publiquei algum dado errado ou impreciso, não contemplado pelo desmentido dele, peço desculpas ao senhor Roberto Messias e, claro, o corrigirei.
Estranho, acima de tudo, a “amnésia” repentina sobre nossa segunda conversa, quando reafirmou que esperava a prisão de Henrique Pizzolato, sem oferecer argumentos “técnicos” para justificar sua posição.
Este episódio me lembra do comportamento do ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, aquele que “fumou mas não tragou”, para o qual sexo oral com a estagiária não poderia ser qualificado “tecnicamente” de sexo.
Com a palavra os funcionários do Banco do Brasil que conhecem melhor do que ninguém as tramas de toda essa história.
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