Aluno em Cuba, 'sem-terra' vê no Mais Médicos
chance de atuar no Brasil
Prestes a se formar em medicina, jovem quer trabalhar em assentamentos. Família de Restinga, SP, diz que rapaz sempre sonhou em ser médico.
(globo.com)
Passando as férias em uma casa sem reboco, construída no lote de um assentamento de trabalhadores sem-terra em Restinga (SP), o estudante de medicina Marcelo Domaceno Coelho mata a saudade dos pais e do lugar que diz sentir orgulho de ter como origem. O rapaz de 26 anos deixou há 6 anos a área rural da cidade para realizar o sonho de se tornar médico na Universidade de Havana, em Cuba.
Com a formatura prevista para o ano que vem, Marcelo conta os dias para realizar outro sonho: voltar ao Brasil para atuar no assentamento onde que foi criado. A oportunidade pode estar mais próxima por causa do Programa Mais Médicos do Governo Federal. “Eu não posso me esquecer de onde eu saí, que é daqui do assentamento. Me formando como médico eu vou poder ajudar mais no atendimento das pessoas, dos companheiros aqui do assentamento 17 de Abril, já que temos um posto de saúde aqui dentro, só que, infelizmente, hoje em dia, não tem médico”, relatou.
No assentamento do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) vivem 159 famílias. O lugar fica a 16 quilômetros da cidade de Restinga. A distância não impediu que Marcelo estudasse e concluísse os ensinos fundamental e o médio em escola pública.
“Todo ano o governo cubano doa alguma quantidade de bolsas para os movimentos sociais e o MLST foi contemplado com essa possibilidade dessas bolsas. Então, fui comunicado pela coordenação do movimento onde eu falei ‘agora tenho que aproveitar essa oportunidade’. Eu sempre sonhei desde moleque na carreira de medicina, apesar que já sabia que não seria possível cursar medicina no Brasil”, afirmou.
A barreira para alcançar o sonho de se tornar médico, segundo ele, estava na dificuldade dos vestibulares de medicina de faculdades públicas e nas mensalidades altas das particulares, valor impossível de ser pago pela família. Foi quando a oportunidade de conseguir uma bolsa em Cuba surgiu como a grande chance para ele.
Para o pai, o trabalhador rural Antonio Roberto Coelho, o esforço da lida na roça e as privações que tem que passar valem a pena para ver o filho doutor. “Isso é um orgulho que eu jamais vou esquecer, porque ter um filho formado médico, na realidade, se fosse pelo pai, o pai não teria condições. As faculdades são muito caras e como é que eu ia fazer um negócio desse para ele?”, questiona.
A mãe, Maria Clarice Coelho, diz que tem vontade de ir com o marido visitar Marcelo em Cuba, mas falta dinheiro para comprar as passagens. São os dois que arcam com a alimentação e moradia do estudante lá. O esforço é para não deixar faltar nada a ele e ainda aguentar o sentimento da ausência do filho. “Fico feliz de saber que ele está estudando, mas a saudade é muita e a dificuldade é muita. Já teve vezes de a gente precisar do dinheiro e não ter para mandar para ele”, diz.
Prestes a se formar, Marcelo vê a oportunidade de voltar ao Brasil por meio do Programa Mais Médicos do Governo Federal, que pretende aumentar a quantidade de médicos no sistema público de saúde em regiões carentes, autorizando a vinda ao país de estrangeiros ou de brasileiros graduados no exterior sem a necessidade de revalidação do diploma.
“Há má distribuição geográfica de médicos que a gente tem no Brasil. Os médicos no Brasil estão na maioria em grandes capitais e esquecendo da principal parte do povo que é os que estão nos municípios e também necessitam de atendimento, que também fica doente”, concluiu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário