Proteção a um corrupto notório
Atitude irresponsável na Bolívia suscita suspeitas de toda natureza e não pode ficar impune
Blog do Pedro Porfírio
Tem que ser um pigmeu estúpido, desonesto e mal intencionado para aplaudir a suspeitosíssima "operação de guerra" conduzida por um "diplomata" irresponsável (no mínimo) que deu fuga a um bandido do colarinho branco, condenado na Bolívia por corrupção e respondendo a outros 19 processos, inclusive pelo envolvimento no massacre de 11 agricultores indígenas em 11 de setembro de 2008.
20 processos esperam este corrupto na Bolívia |
Pelo que sei desse senador bilionário, tenho todo direito de suspeitar que rolou muita grana ao ponto de levar um secretário de Embaixada a arriscar sua própria carreira para envolver o Brasil numa situação desconfortável e gerar um clima beligerante entre dois países irmãos.
E pelo que sei da política intervencionista e colonialista dos Estados Unidos, não me surpreenderia se essa "fuga" tenha sido planejada e monitorada por uma dessas dezenas agências e empresas terceirizadas de espionagem a serviço de Washington, que tem investido pesado contra o governo do indígena socialista Evo Morales.
Se fosse num país de olhos azuis eu duvido que esse "diplomata" ousasse tal operação. Mas como a Bolívia é uma das nações mais pobres do Continente, como não tem bala na agulha, consumou-se uma das mais insólitas violações das relações internacionais, decorridas algumas semanas de outra humilhação, quando governos da Europa quase provocam um acidente fatal com o avião que conduzia o presidente Evo Morales, sob o pretexto de que ele estaria transportando o norte-americano que revelou ao mundo a espionagem cibernética dos Estados Unidos.
Afronta sem precedentes e indefensável
O que aconteceu neste último fim de semana foi uma afronta inqualificável e indefensável sob todos os aspectos. Feito maior autoridade da embaixada brasileira em La Paz, um medíocre e desconhecido Eduardo Saboia ( desses que entram na diplomacia por "herança", mas sem vocação) convocou dois fuzileiros navais e usou carros oficiais para transportar um políticoficha suja até Corumbá, do lado de cá da fronteira, mesmo sabendo que estava cometendo uma gravíssima violação dos seus deveres e comprometendo a seriedade da diplomacia brasileira.
Esse senador, corrupto de papel passado, gozava indevidamente de asilo diplomático e comandava seus negócios escusos de dentro da Embaixada, um edifício confortável conectado ao mundo, onde gozava de todas as regalias e comia do bom e do melhor.
Dono de muitas terras e considerado o maior pecuarista da região norte da Bolívia, na fronteira com o Brasil, teve sua fortuna multiplicada às custas de desvios de verbas federais como governador do Departamento de Pando e diretor da Zona Franca de Cobija, sua capital, onde se apossou irregularmente de muita grana, inclusive de recursos da Universidade Amazônica de Pando.
Percebendo que ia ser condenado já em junho passado, antecipou-se em maio e negociou com o ex-embaixador Marcel Biato sua entrada na embaixada brasileira, sob a alegação de estava sendo vítima de perseguição política. Ao mesmo tempo, mandou a família para o Acre, bem próximo dos seus latifúndios.
Ele já estava sob proteção diplomática quando foi condenado pela Justiça boliviana “por ter agido contra a Constituição e as leis, por prevaricação, e por causar prejuízos econômicos ao Estado de mais de 11 milhões de pesos bolivianos (US$ 1,6 milhão)”, de acordo com um relatório da Promotoria.
Cobertura inexplicável sob todos os aspectos
Mesmo assim, por decisão do controvertido ministro Antônio Patriota, que se tornou chanceler graças a um lobby intermediado pelo vice-presidente Michel Temer, o governo brasileiro formalizou a concessão do asilo diplomático, violando os termos da Convenção de Caracas, de 1954, sobre asilo político, que estabelece em seu Artigo III:
" Não é lícito conceder asilo a pessoas que, na ocasião em que o solicitem, tenham sido acusadas de delitos comuns, processadas ou condenadas por esse motivo pelos tribunais ordinários competentes, sem haverem cumprido as penas respectivas".
Não há pretexto que justifique esse contrabando, que pode muito bem estar forrado em milhões de dólares, e não há a menor condição moral do Brasil legitimá-lo agora, que esse senador corrupto terá de formalizar novo pedido.
À luz da legislação, ele está no Brasil sem qualquer sustentação legal, é protagonista de um complô que fere nossa soberania e deve ser recolhido ao presídio da Papuda ou deportado para seu país, já que dispensou o abrigo na embaixada.
Da mesma forma, esse diplomata picareta que violou as normas disciplinares da carreira deve sofrer uma punição exemplar, além de ser demitido por justa causa, por que seu gesto, alem de desmoralizar a gerar insegurança sobre o comportamento de uma diplomacia com fortes tonalidades de hereditária, compromete a credibilidade do Estado brasileiro na sua relação com o mundo.
Na mesma linha, é dever da Comissão de Ética do Senado abrir um procedimento contra senador Ricardo Ferraço por ter envolvimento direto com a operação ilegal, cabendo-lhe oferecer um jato executivo para o transporte do delinquente de colarinho branco até Brasília, onde está numa mansão de seu advogado esbanjando saúde.
A presidente Dilma Rousseff fez bem em livrar-se do seu chanceler incompetente, mas errou em nomeá-lo para nossa embaixada na ONU. Tudo indica que essa operação ilegal e irresponsável teve seu dedo, até por que ele sempre fez jogo duplo por suas íntimas ligações com a máquina externa dos Estados Unidos.
O que não pode é deixar isso tudo no barato, sob pena de afundar a diplomacia brasileira no lamaçal da picaretagem e da chicana. Esse Eduardo Saboia, que tem o suporte da pior direita e até medalha vai receber na Câmara do Rio por iniciativa do vereador Cesar Maia, numa descarada provocação, conta com a impunidade, o corporativismo e as fofocas que fazem do Itamarati uma casa de intrigas e baixarias, onde meio mundo tem rabo preso.
Mas se ficar por isso mesmo, ninguém poderá reclamar se os condenados do "mensalão", que tiveram um julgamento único num ambiente claramente politizado, pedirem asilo à Bolívia ou a qualquer outro país, como disse num descuido comprometedor o governador Eduardo Campos: "cumprimos uma tradição que é própria do povo latino e do brasileiro, que é a de abrigar".
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