O medo de ousar é a certeza de perder
Fernando Brito TIJOLAÇO
11 de Jul de 2013 | 00:58
O senhor Alexandre Tombini sabe perfeitamente que nosso país não enfrenta uma inflação de demanda que justifique, por isso, uma elevação dos juros. A produção e o consumo ou patinam ou avançam em ritmo pífio, não há elevação de salários significativa, nenhum elemento que possa fazer, por este lado, justificável uma alta de juros.
Sabe também que a saída de capitais do Brasil vem se dando, como em todos os emergentes, pela lenta recuperação da economia norte-americana e, sobretudo, pela perspectiva cada vez mais concreta que aquele país reduza sua política de expansão monetária, que inundou o mundo de dólares, desvastadoramente. O dólar, como se sabe, é a única moeda cuja expansão, mesmo farta, não gera inflação interna, porque é entesourado como reserva de valor por pessoas, empresas e países.
O problema de Tombini é que o pensamento conservador – e medíocre – em matéria de economia é capaz de fazer tudo, menos de ousar.
Tombini, como todos eles, não teria a coragem de fazer – sem o brilho, claro – algo como fez Sir John Maynard Keynes ao dirigir, em 1933, uma carta aberta a Franklin Roosevelt, presidente dos EUA então arrasados pela depressão econômica, para dizer que a recuperação de economia passava por três fatores:
“Os indivíduos devem ser induzidos a gastar mais seus rendimentos ; o mundo dos negócios deve ser induzido, quer pelo aumento da confiança nas perspectivas ou por uma menor taxa de juros, a colocar mais renda nas mãos de seus empregados (…)e a autoridade pública deve ser chamada a ajudar a criar rendimentos atuais adicionais por meio do gasto de dinheiro, emprestado ou impresso”.
A turma do “equilíbrio fiscal acima de tudo” teria uma síncope ouvindo um economista falar assim.
Mas se foi com essa coragem,indo na contramão dos que enxergam a economia como uma equação matemática dissociada da vida social, que Keynes se tornou o mais importante pensador econômico do século 20, é com essa covardia e subserviência aos falcões financeiros que Tombini vai se reduzindo à pequenez de burocrata.
Quando vejo isso, lembro-me da história que o velho Brizola me contou sobre uma visita que ainda jovem fizera a Oswaldo Aranha, no imponente prédio carioca onde funcionava o Ministério da Fazenda, que o velho gaúcho dirigia. Aranha abriu a porta de uma sacada que dava para um dos salões imensos do prédio, onde guarda-livros e amanuenses mourejavam entre papéis e pesadas calculadoras mecânicas.
-Olhe, meu rapaz, estas são as minhas mulas. Trabalham muito, um esforço admirável. Mas são absolutamente inférteis.
A reunião do Copom, que esta tarde resolveu aumentar, outra vez, em 0,5% a taxa Selic – devolvendo o Brasil ao “primeiro escalão” de juros reais no mundo – é algo assim, infértil.
Reparem como faz tempo que desapareceu a grita dos conservadores por “um Banco Central independente”.
O Banco Central já é independente de um projeto de país em progresso, com produção, emprego e renda em alta.
Cumpre seu papel, acenando com uma inflação que está sempre explodindo para justificar o que é.
É dependente e avassalado pelo mercado, que exige e tem dele o que sempre quer: juros pagos à custa do sacrifício do povo brasileiro e de seus sonhos de prosperidade.
Em outra carta a Roosevelt, em 1938, Keynes escreveu:
“Manter a prosperidade, no mundo de hoje é muito difícil. Mas é muito fácil perder um tempo precioso”.
Estamos perdendo, de fato.
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