Crise da mídia eleva a tensão no país
"Grandes jornais perdem inexoravelmente leitores no papel, mas não param de ganhá-los na Web (43 milhões de internautas leem o New York Times); (porém) quando os sites dos grandes jornais passaram a ser pagos (como o Times), a visitação despencou (de 22 milhões para 200 mil)”.
“Libération ou Mediapart escolheram um modelo de pagamento parcial . Cabe registrar que se a imprensa da internet é, no momento pelo menos, quase gratuita, isso se deve ao fato de que ela é subvencionada pelos leitores da imprensa escrita”.
“ Antes, os meios de comunicação vendiam informação. Agora, como a TF1 faz com a Coca Cola, vendem consumidores a seus anunciantes”.
“ Quando “Slate” (grupo do Washington Post) comenta um livro ou um DVD, links ligam o texto ao site de vendas da Amazon. Para cada venda efetuada, Slate recebe 6% do total. A missão informacional é parasitada pela comunicação”.
Os trechos foram pinçados da resenha do novo livro de Ignacio Ramonet, a 'Explosão do Jornalismo', publicada nesta pág.
O tema interessa a todos que enxergam na pluralidade da informação e no discernimento crítico que ela alimenta, a alma da democracia.
Ramonet, um intelectual preocupado com o impasse da representação política no século 21, analisa um fenômeno que a mídia dominante conhece bem no Brasil: o declínio do jornalismo impresso e a ausência de um modelo de negócio que reproduza as mesmas taxas de lucratividade – e de hegemonia ideológica – em suporte digital.
O caso aqui se torna agudo por um par de razões.
Em edição recente, a inglesa ‘The Economist’ chamou a atenção para a velocidade exponencial da taxa de conexão brasileira à web.
A metade dos lares do país já está plugada na rede.
Somos a segunda base mais importante do Facebook no mundo.
A mídia tradicional, segunda a revista conservadora, está perplexa diante de uma transição sem volta.
Há muito dinheiro em jogo nessa travessia, explica Ramonet: a indústria da comunicação representa 15% do PIB mundial.
Não só dinheiro em espécie, cabe dizer.
Mas também a sua versão concentrada e ainda mais valiosa: o poder político que se embaralha nessa encruzilhada.
É sobretudo isso, que a ‘Economist’ não atenta, que adiciona especificidade e nitroglicerina ao caso brasileiro.
A ponto de a deriva de um setor empresarial tornar-se uma ameaça à democracia do país.
Meia dúzia de corporações da mídia aqui pautam a vida política e tutelam a economia , como centuriões da riqueza acumulada e da autoridade corrente.
Alguns encarnam essa ‘gendarmerie’ autoconferida há mais de um século.
Enfrentam os tempos difíceis com as garras à mostra.
Às trincas no alicerce político, decorrentes de três derrotas presidenciais sucessivas de seus candidatos à chefia da Nação, veio agregar-se a percepção de um esfarelamento estratégico.
Consequência da mudança estrutural irreversível na dimensão tecnológica do seu negócio.
‘A explosão do jornalismo’, como diz Ramonet brincando com a ambiguidade, atinge o suporte convencional com tal impacto que desordena a escala e o conteúdo da linha de produção, borra o divisor entre emissor e receptor e dissolve o próprio conceito do que se emite: a informação.
Pior: os gigantes do crepúsculo não estão mais sozinhos na luta pela adaptação ao novo meio digital.
Há uma população nova, ágil, desassombrada, composta de pequenos veículos progressistas que contrastam a pauta dominante e disputam uma audiência antes cativa.
Ainda não assimilada em sua importância por governos hesitantes, a emergência desses novos atores tira dos gigantes o favoritismo absoluto na nova corrida.
O faturamento grita, a audiência tropeça.
E eles radicalizam.
Sua estratégia no Brasil visa recuperar, por todos os meios --todos-- um pedaço do chão firme anterior.
Como a tecnologia é a variável exógena da equação, a alternativa dos 'liberais' que dominam a mídia converge para a luta pelo controle do Estado.
Vale tudo.
A partidarização sem pejo esparramou-se do editorial para o colunismo; contagiou as manchetes e já capturou o noticiário.
Busca-se assegurar, ao menos, uma transição suave, para algum ponto seco, a salvo da inundação digital-democrática, que não cessa de subir.
“Libération ou Mediapart escolheram um modelo de pagamento parcial . Cabe registrar que se a imprensa da internet é, no momento pelo menos, quase gratuita, isso se deve ao fato de que ela é subvencionada pelos leitores da imprensa escrita”.
“ Antes, os meios de comunicação vendiam informação. Agora, como a TF1 faz com a Coca Cola, vendem consumidores a seus anunciantes”.
“ Quando “Slate” (grupo do Washington Post) comenta um livro ou um DVD, links ligam o texto ao site de vendas da Amazon. Para cada venda efetuada, Slate recebe 6% do total. A missão informacional é parasitada pela comunicação”.
Os trechos foram pinçados da resenha do novo livro de Ignacio Ramonet, a 'Explosão do Jornalismo', publicada nesta pág.
O tema interessa a todos que enxergam na pluralidade da informação e no discernimento crítico que ela alimenta, a alma da democracia.
Ramonet, um intelectual preocupado com o impasse da representação política no século 21, analisa um fenômeno que a mídia dominante conhece bem no Brasil: o declínio do jornalismo impresso e a ausência de um modelo de negócio que reproduza as mesmas taxas de lucratividade – e de hegemonia ideológica – em suporte digital.
O caso aqui se torna agudo por um par de razões.
Em edição recente, a inglesa ‘The Economist’ chamou a atenção para a velocidade exponencial da taxa de conexão brasileira à web.
A metade dos lares do país já está plugada na rede.
Somos a segunda base mais importante do Facebook no mundo.
A mídia tradicional, segunda a revista conservadora, está perplexa diante de uma transição sem volta.
Há muito dinheiro em jogo nessa travessia, explica Ramonet: a indústria da comunicação representa 15% do PIB mundial.
Não só dinheiro em espécie, cabe dizer.
Mas também a sua versão concentrada e ainda mais valiosa: o poder político que se embaralha nessa encruzilhada.
É sobretudo isso, que a ‘Economist’ não atenta, que adiciona especificidade e nitroglicerina ao caso brasileiro.
A ponto de a deriva de um setor empresarial tornar-se uma ameaça à democracia do país.
Meia dúzia de corporações da mídia aqui pautam a vida política e tutelam a economia , como centuriões da riqueza acumulada e da autoridade corrente.
Alguns encarnam essa ‘gendarmerie’ autoconferida há mais de um século.
Enfrentam os tempos difíceis com as garras à mostra.
Às trincas no alicerce político, decorrentes de três derrotas presidenciais sucessivas de seus candidatos à chefia da Nação, veio agregar-se a percepção de um esfarelamento estratégico.
Consequência da mudança estrutural irreversível na dimensão tecnológica do seu negócio.
‘A explosão do jornalismo’, como diz Ramonet brincando com a ambiguidade, atinge o suporte convencional com tal impacto que desordena a escala e o conteúdo da linha de produção, borra o divisor entre emissor e receptor e dissolve o próprio conceito do que se emite: a informação.
Pior: os gigantes do crepúsculo não estão mais sozinhos na luta pela adaptação ao novo meio digital.
Há uma população nova, ágil, desassombrada, composta de pequenos veículos progressistas que contrastam a pauta dominante e disputam uma audiência antes cativa.
Ainda não assimilada em sua importância por governos hesitantes, a emergência desses novos atores tira dos gigantes o favoritismo absoluto na nova corrida.
O faturamento grita, a audiência tropeça.
E eles radicalizam.
Sua estratégia no Brasil visa recuperar, por todos os meios --todos-- um pedaço do chão firme anterior.
Como a tecnologia é a variável exógena da equação, a alternativa dos 'liberais' que dominam a mídia converge para a luta pelo controle do Estado.
Vale tudo.
A partidarização sem pejo esparramou-se do editorial para o colunismo; contagiou as manchetes e já capturou o noticiário.
Busca-se assegurar, ao menos, uma transição suave, para algum ponto seco, a salvo da inundação digital-democrática, que não cessa de subir.
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