O QUE ESTAMOS FAZENDO
COM NOSSO PAÍS?
(RicaRDO KOTSCHO)
Caros amigos do Balaio,
faz tempo que não temos uma conversa, digamos mais pessoal, sobre os rumos do nosso blog, que completa sete anos em setembro.
Neste trabalho diário de comentar o que está acontecendo no nosso país e no mundo, tanto eu como vocês já passamos por diferentes fases, vivemos muitos altos e baixos, aos trancos, barrancos e solavancos. De vez em quando, é bom dar uma freada de arrumação no burrico para ajeitar as melancias.
Aproveito este domingo cinzento de inverno em São Paulo, no dia mais frio do ano, para fazer um breve balanço, não só do que vejo por aqui, mas também em outros sítios da internet.
Estou cada vez mais assustado com o nível dos debates _ se é que se pode chamar de debates a troca feroz e insana de ofensas e acusações _ neste interminável Fla-Flu, que se acirrou durante a última campanha eleitoral e está chegando a níveis perigosos de intolerância e radicalização.
De tão repetitiva, esta guerra nas redes sociais está se tornando, além de tudo, muito chata, jogando fora o grande instrumento de democratização de informações e opiniões proporcionado pela internet.
Por isso, tenho procurado variar os assuntos nas últimas semanas, saindo um pouco da marcha batida da crise rumo ao brejo, na esperança de acalmar os ânimos e refletir sobre outros fatos da vida real, fora do dia a dia da disputa política. A vida, afinal, não pode ser só isso.
Com tristeza, noto que quase ninguém quer saber de parar um pouco para pensar no que estamos fazendo com nosso país. Estamos todos virando um bando de donos da verdade, que não admitem nem ouvir o que os outros pensam?
Pouco importa o que escrevo aqui _ e tenho a impressão de que muitos só leem o título _, pois cada um se sente no direito de usar a nossa democrática área de comentários para tratar do que bem entende na defesa das suas verdades absolutas.
Depois de tanto tempo de convívio, muitos ainda não se deram conta de que este não é um blog político destinado a jogar mais gasolina na fogueira ou a tentar apagar incêndios. Este é um blog jornalístico, que procura tratar de fatos relevantes ou não, discutir ideias e rumos. Não quero convencer nem converter ninguém a nada.
Nunca fui escravo da audiência nem escrevo para agradar leitores, muito menos a angariar seguidores, mas me dedico com afinco a ser honesto com eles, a procurar as versões mais próximas da realidade factual para que cada um possa formar sua própria opinião. E quando erro, como aconteceu recentemente na questão do aumento dos servidores do Judiciário, vocês são testemunhas disso, procuro me corrigir com a maior brevidade possível.
A vida inteira fui acima de tudo apenas um repórter e assim pretendo terminar minha carreira. Confesso que às vezes me dá um certo desânimo ao constatar que vou ficando cada vez mais isolado nesta minha profissão de fé no ofício de jornalista, sem adjetivos, que antes de tudo deve servir ao público.
Tanto nas velhas como nas novas mídias prolifera cada vez mais o discurso panfletário, sem compromisso com a sociedade para quem trabalhamos, que tem o sagrado direito de ser bem informada, com liberdade de expressão para todos e respeitando os princípios democráticos. Neste cenário sombrio, que já beira o fascismo, todos correm o risco de perder totalmente o que lhes resta de credibilidade. Cada vez mais gente não acredita no que lê.
Pois é exatamente isto que estamos colocando em risco ao misturar no mesmo balaio jornalismo e propaganda, interesses comerciais e políticos, de indivíduos ou de empresas. Lamento ter que deletar cada vez mais comentários preconceituosos, ofensivos e grosseiros, mas nem penso em fechar a área de comentários, como muitos dos meus colegas blogueiros já fizeram, por não suportarem mais este ambiente contaminado que faz mal à alma e ao estômago.
Afinal, a interação entre autores e receptores de informações, numa permanente troca de experiências de vida e diferentes visões do mundo, é a grande conquista desta verdadeira revolução promovida pelas redes sociais nas comunicações humanas.
Em defesa da internet e da democracia, precisamos ser mais cuidadosos com o que escrevemos para preservar este maravilhoso espaço de liberdades públicas duramente conquistado. Aqui ninguém vai ganhar no grito. Comentários bem humorados serão sempre bem vindos, mas favor não confundir com deboches e brincadeiras cretinas. Não estamos interessados em saber o que um pensa do outro. Para mim, são todos iguais, não importam suas posições políticas.
Sem respeito à opinião alheia, perdemos todos, perde o país.
Vida que segue. E vamos que vamos.
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