domingo, 2 de novembro de 2014

Papa Francisco: Igreja e Justiça Social                   

Editorial – La Jornada, México  

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No marco do Encontro Mundial de Movimentos Populares, do qual o presidente da Bolívia, Evo Morales, participou, o papa Francisco indicou que "...este nosso encontro responde a um compromisso muito concreto, algo que qualquer pai, qualquer mãe quer para seus filhos; um compromisso que deveria estar ao alcance de todos, mas que hoje vemos, com tristeza, cada vez mais longe da maioria: terra, teto e trabalho". E acrescentou: “É estranho, mas se falo disto para alguns e dizem que o Papa é comunista (…) Não entendem que o amor aos pobres está no centro do Evangelho”.
A frase citada é a ratificação, nas palavras pontifícias, de um compromisso social que a Igreja católica havia abandonado há muito tempo, uma deserção que se acentuou com a atitude de Roma e das hierarquias eclesiásticas locais durante os pontificados de Karol Wojtyla e Joseph Ratzinger; nesse período, os hierarcas católicos abandonaram seus fiéis para se aliarem aos poderes terrenos e ao dinheiro.
Assim, enquanto o pontífice polaco se somava à campanha anticomunista de Ronald Reagan e Margaret Thatcher, o Vaticano perseguia e hostilizava sacerdotes, bispos, arcebispos e teólogos que pregavam os ensinamentos de Cristo com fidelidade entre os pobres.
A Teologia da Libertação foi duramente reprimida; seus expoentes foram reduzidos ao silêncio, retirados dos cargos que ocupavam e submetidos a todo tipo de arbitrariedades e castigos. Os postulados da justiça social e aggiornamento católico do Concílio Vaticano II foram feitos de um lado e a hierarquia católica empregou, como instrumento principal de coerção contra os padres que exerceram a opção preferencial pelos pobres, a Congregação para a Doutrina da Fé, instituição herdada da Inquisição e dirigida por Joseph Ratzinger, que sucedeu Wojtyla como Bento XVI.
O descolamento de Francisco em relação a seus predecessores imediatos e a recuperação dos postulados de justiça social do catolicismo são por si alentadores, mas é mais alentador ainda que essa discussão não pareça destinada a ficar entre os muros do Vaticano. Pelo contrário, está espalhando em comunidades católicas de diversas localidades e inclusive nos governos como o do próprio Evo Morales, que afirmou sobre a declaração de Bergoglio: “sinto que agora temos o Papa comprometido com seu povo, com pensamento revolucionário, com sentimento social, e sobretudo com propostas para mudar e acabar com a injustiça, violência e a guerra”.
No mais, é claro que os esforços de atualização empreendidos do mesmo trono de Pedro, com o apoio e a simpatia de muitos católicos, encontram resistência feroz nas fileiras da cúria romana e entre os setores mais cavernários da hierarquia eclesiástica.
Resta esperar que o pontífice possa se sobrepor a esses obstáculos e que a Igreja Católica recupere seu lugar perdido como referência moral e espiritual para milhões de fiéis, especialmente para os mais desassistidos.

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