quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Dilma  e  a suíte  do  Catar:    Como subir na vida em um dos jornalões brasileiros                                                


                                        
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Da Redação
Para colaborar com jovens jornalistas em busca de emprego, analisaremos notícia publicada no Estadão dessa quarta-feira 12 de novembro, em página que trazia como manchete principal assunto relacionado à presidente Dilma Rousseff, que viajou para cúpula de chefes de Estado na Austrália.
Trata-se de uma aula em como sobreviver nas redações dos jornalões: a transformação de uma série de meias verdades numa “grande verdade” mentirosa.
Notícia real: o avião presidencial que leva Dilma Rousseff não tem autonomia para voar direto até a Austrália; o emir do Catar pediu ao Planalto que a escala no emirado fosse transformada em visita de Estado e bancou todas as despesas. O Catar não fica fora da rota. O Catar é o terceiro maior exportador de petróleo do mundo. O Catar é escala de centenas de vôos internacionais, todos os dias. Quem viajou para a Ásia sabe disso.
Porém, o leitor de manchetes fica intrigado: “Escala com hotel de luxo se torna visita de Estado”. Poxa, diz ele, essa Dilma não vale nada. Programou uma visita ao Catar só para se hospedar em hotel de luxo!
Isso é confirmado pelo subtítulo do texto: “Parada do avião de Dilma no Catar vira agenda oficial e justifica estada de presidente em suíte de R$ 30 mil por diária”.
Notaram o JUSTIFICA?
Escandaloso, diz o leitor. Vamos torrar 30 mil reais para a Dilma ficar em hotel de luxo numa escala desnecessária!
Pobre repórter que assinou o texto. Provavelmente o título e o subtítulo foram “envenenados” na redação. Colocaram o nome dela para segurar o rojão. Ossos do ofício.
O texto diz que Dilma vai “desfrutar de uma suíte de 720 metros quadrados, com serviço de mordomo”.
É preciso chegar à metade da notícia para ter uma informação essencial: “tudo pago pelo emirado”.
O local tem dois andares, três quartos, três banheiros, sala de jantar com 10 lugares e salas de estar com janelas voltadas para o Golfo Pérsico”, continua o texto, depois de ter dito que Dilma e a filha Paula “devem” ficar hospedadas na suíte.
Só quando o texto se encaminha para o final é que aparecem duas outras informações essenciais: Dilma “vai aproveitar pouco desse luxo” e o avião não tem autonomia para voar direto.
Sim, pois se a presidente partiu do Catar às 18 horas e teve encontros durante o dia com o emir, tudo o que fez foi passar a noite na suíte.
Ficava ruim de dizer: Dilma dorme em suíte luxuosa paga pelo emir do Qatar, né mesmo?
Melhor deixar no ar a ideia de que a presidente torrou dinheiro do contribuinte num capricho desnecessário. É este veneno diário, em pequenas doses, que corrói a imagem de qualquer um.

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