Quem é quem
no núcleo duro de Marina
Marina Silva foi vereadora em Rio Branco e deputada estadual pelo Acre,
antes de chegar ao Senado, de forma surpreendente, numa eleição que contrariou
todas as pesquisas, em 1994. Sua trajetória no Senado foi de militante
ecológica e isso a levou não somente a se reeleger senadora em 2002, como
também a ser uma das primeiras ministras anunciadas por Lula para a pasta de
Meio Ambiente, em 2002.
Marina, mesmo sendo política há mais de 25 anos, costuma ser considerada
como uma outsider. Talvez por conta de seu comportamento discreto e ao mesmo
tempo bastante autocentrado. São poucas as pessoas que compartilham da
intimidade da nova candidata à presidência da República pelo PSB e um número
ainda menor aos quais ela oferece os ouvidos. Quem diz isso são seus amigos e
aliados, como o deputado federal Alfredo Sirkis.
A crise de hoje com o secretário-geral do PSB e ex-coordenador da
campanha de Eduardo Campos, o pernambucano Carlos Siqueira, é um pouco resultado
desse comportamento difícil da candidata. Mas Marina tem um núcleo duro. E é
com as pessoas desse grupo que ela tem decidido boa parte dos seus passos
políticos desde que saiu do PT mirando uma candidatura presidencial.
Conheça um pouco daqueles que fazem a cabeça da candidata.
Conheça um pouco daqueles que fazem a cabeça da candidata.
Walter Feldman – Atualmente
deputado federal, é médico de formação e foi uma das principais lideranças do
PSDB em São Paulo por muitos anos. É cristão novo na relação política com
Marina Silva, mas muito rapidamente ganhou a sua confiança. É o atual porta-voz
da Rede e foi guindado ontem a coordenador geral da campanha no lugar do
socialista Carlos Siqueira, o que abriu a primeira crise na campanha da
candidata.
Feldman é tudo menos alguém exatamente da “nova política”. Já teve sete
cargos legislativos e cinco executivos. Sempre foi próximo de José Serra e foi
seu coordenar de subprefeituras em São Paulo, entre 2004-2005. Em 2006 foi um
dos principais articuladores da campanha do então ex-prefeito para o governo do
estado de São Paulo. Antes já havia sido chefe da Casa Civil durante o governo
de Mario Covas. Também foi um dos principais articuladores do PSDB no governo
Kassab, tendo sido secretário de Esporte e Lazer no governo do pesedista.
Feldman tentou ser candidato a prefeito pelo PSDB por algumas vezes, mas
não conseguiu. Na última eleição municipal, atribuiu-se a ele articulação do
apoio do pastor Silas Malafaia a José Serra.Depois que Marina Silva deixou o PV, ele se desfilou do PSDB e ajudou na
fundação da Rede, como esta não conseguiu autorização da justiça para se tornar
partido, desistiu de disputar novo mandato parlamentar. Até por conta dessa
atitude teria se tornado a voz da Rede e ganhado muito espaço junto à
candidata.
Eduardo Gianetti da Fonseca – responsável
pelo programa econômico da candidatura de Marina Silva. É formado em Economia
(FEA) e Ciências Sociais (FFLCH), ambas na USP. Tem uma postura mais neoliberal
e defende que o Banco Central seja independente. Ou seja, não tem nenhuma
relação com as políticas econômicas do governo. Apenas com os interesses do
mercado. Em declarações à imprensa já disse que um eventual governo Marina
Silva será “menos estatizante do que o de Dilma Rousseff” e também tem
defendido a tese do corte de ministérios. Ou seja, considera que o Brasil
precisa ter um Estado menor.
Durante a gestão de Lula (2002-2010) classificou como “irresponsável e
inaceitável” os aumentos dados às aposentadorias e aos funcionários públicos. O
que sinaliza para uma separação entre o salário mínimo do trabalhador na ativa
e do aposentado. Algo defendido por economistas neoliberais.
Pedro Ivo Batista – É amigo e
assessor político de Marina Silva há muito tempo. Foi militante do PT desde
quase sua fundação, tendo participado da mesma tendência interna da candidata,
o Partido Revolucionário Comunista (PRC), que no movimento estudantil se
organizava na corrente Caminhando. A principal liderança do PRC era o
ex-deputado José Genoino. Naquela época, Marina era bastante ligada a Ozeas
Duarte, que era um dos principais dirigentes da tendência. Quando Marina sai do
partido e vai para o PV, Pedro Ivo sai junto. Depois deixa o PV junto com
Marina para construir a Rede. E agora está junto com ela no PSB.
Considerado um dos braços direitos de Marina Silva no ministério do Meio
Ambiente (2003-2008), Pedro Ivo foi o responsável pela coordenação da Agenda 21
Brasil. Cearense e ex-bancário, foi dirigente da Central Única dos
Trabalhadores (CUT) e coordenador nacional de Meio Ambiente. Tem bom trânsito
no PT e é considerado uma pessoa equilibrada e bom articulador.
Maria Alice Setubal (Neca Setubal) –Conheceu Marina em
2007 e se aproximou muito dela na eleição de 2010. Por isso foi a escolhida
para representá-la na coordenação do programa de governo de Eduardo Campos.
Acionista da holding Itaúsa, possui 1,29% do capital total, o que lhe
conferiria uma fortuna de R$ 792 milhões. Em 2010, o Itaú doou R$ 1 milhão para
a campanha de Marina.
Questionada se participaria de um eventual governo de Marina, Maria
Alice Setubal disse: “Supondo que Marina ganhe, eu estarei junto, mas não
sei como. Talvez eu preferisse não estar em um cargo formal, mas em algo que eu
tivesse um pouco mais de flexibilidade.”
Bazileu Margarido – É economista
e do círculo mais próximo da candidata. Por este motivo, foi indicado por
Marina para ser o tesoureiro de sua campanha na tarde de ontem. Na gestão de
Marina à frente do Ministério do Meio Ambiente, foi o presidente do Ibama.
Membro da executiva nacional da Rede é defensor do PAC e da construção das hidrelétricas.
Bazileu foi um dos interlocutores da parceria entre Rede e PSB e defendeu a
tese de que membros da Rede não deveriam aceitar cargos na executiva do PSB. É
considerado um dos melhores amigos da candidata.
Alfredo Sirkis – É jornalista
e deputado federal (PSB-RJ). Foi o principal articulador da ida de Marina Silva
do PT para o Partido Verde. Tem militância ecológica antiga, foi fundador do
PV, e na ditadura participou da luta armada no grupo Vanguarda Popular
Revolucionária (VPR). Era muito ligado à candidata, mas a relação entre eles
estremeceu quando a Rede não conseguiu ser formalizada enquanto partido. Na
ocasião, escreveu o seguinte texto em seu blogue:
“Marina é uma extraordinária líder popular, profundamente dedicada a uma
causa da qual compartilhamos (…). Possui, no entanto, limitações, como todos
nós. Às vezes falha como operadora política, comete equívocos de avaliação
estratégica e tática, cultiva um processo decisório ad hoc e caótico e acaba só
conseguindo trabalhar direito com seus incondicionais. Reage mal a críticas e
opiniões fortes discordantes e não estabelece alianças estratégicas com seus
pares. Tem certas características dos líderes populistas embora deles se
distinga por uma generosidade e uma pureza d’alma que em geral eles não têm.”
Esse texto de Sirkis, que teve forte relação com a candidata, acabou
reforçando uma série de críticas que Marina enfrenta. E sua imagem sai ainda
mais colada neste tipo de comportamento com a recente declaração de Carlos
Siqueira, dizendo que foi rechaçado de forma grosseira por ela da coordenação
da campanha. Siqueira gozava de grande confiança de Eduardo Campos.
Guilherme Leal – Co-presidente
do Conselho da Natura e dono de 25% das ações da empresa. Está no ranking da
Forbes entre as pessoas mais ricas do mundo. Posição de 461 (2010). Foi
candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva em 2010 e doou R$ 11
milhões de reais para a campanha. Tinha se distanciado da candidata quando ela
foi para a aliança de Campos, mas já deu sinais de que agora voltará a atuar de
forma mais próxima.
A Natura é uma empresa que tem forte discurso de responsabilidade
socioambiental, mas responde por processo de trabalho escravo e é acusada de
biopirataria pelo Ministério Público Federal.
João Paulo Capobianco – Biólogo,
fotógrafo e ambientalista. Durante a gestão da candidata à frente ao ministério
do Meio Ambiente, foi secretário nacional de Biodiversidade e Florestas e
secretário-executivo do ministério. Em 2010, foi o coordenador da campanha de
Marina Silva e mais recentemente um dos principais articuladores da fundação da
Rede.
Capobianco teve o nome cogitado para disputar o governo do Estado de São
Paulo. Porém, em função da negociação do PSB com Geraldo Alckmin (PSDB), essa
hipótese nem ganhou muito espaço.
Capobianco é um crítico ferrenho do governo Dilma e o classifica como um
atraso para a questão ambiental no Brasil.
Além desse grupo, Marina leva muito em consideração a opinião de seu
marido, Fábio Vaz de Lima, que até esta semana ocupava um cargo de comissão no
governo do Acre, e de pessoas com quem tem relação muito mais pessoal do que
política. Esse é um hábito que a candidata cultiva. Ela não leva em
consideração apenas a opinião do seu grupo mais político. E muitas vezes
surpreende a todos com decisões inesperadas, como a filiação ao PSB para ser
vice de Eduardo Campos.
De qualquer maneira, muito do que Marina vier a fazer nos próximos dias
que podem levá-la ou não ao segundo turno e até a presidência da República terá
muito a ver com esse grupo apresentado nas linhas acima.
Colaborou: Marcelo Hailer
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