ELEIÇÕES OU MEDO?
Tomar partido é sempre uma ilusão. Argumentos e reparos cabem em qualquer lugar, até mesmo nos intestinos cerebrais e encanamentos da casa.
Num retrospecto das candidaturas (ou ainda é cedo?) temos a despontar, como grande fenômeno, a de Marina com três cargas: do luto, do avião e do sectarismo religioso; ao primeiro a gente pode perdoar compungido; ao segundo aguardar um julgamento de condenação, que jamais irá se comparar ao de qualquer ladrão ou assaltante, especialmente, quanto às penas aplicáveis. O terceiro e último é o que nos apavora.
Pululam exemplos de alguns pastores que defendem – de púlpitos e tribunas – o genocídio feminino, contra a promulgação da Lei do Aborto; depois, o da exclusão de minorias de cidadãos cuja opção de gênero não é a deles; sem contar a dos que pretendem impedir o relacionamento homoafetivo ou a adoção de pessoas abandonadas, nada obstante se posicionem a favor do massacre dessas mesmas pessoas vulneráveis na periferia das grandes cidades, por agentes do Estado.
Não custa, então, cogitar: estarão eles se preparando para prosseguir nas investidas contra índios, negros e doentes mentais? – só para lembrar alguns. Ou seja, contra as minorias de sempre: condenados da terra; escravos e, ao cabo, financiadores, durante as últimas décadas, dos conglomerados internacionais farmacêuticos, sem qualquer esperança de cura.
Os temas candentes passam de raspão aos debates, enfatizando o bom-mocismo que lembra Pangloss e o melhor dos mundos, mas, todos – com raros estertores – a ignorar solenemente a tomada de consciência das minorias e o prosseguimento dos movimentos de rua. A mídia – a milionária – prosseguirá fazendo debates, no intuito de espalhar a cortina-de-fumaça propícia ao amortecimento de consciências que, como sempre, irá banalizar o mal.
O balanço conduz ao resultado: até aqui tivemos progresso; denúncias apuradas e condenações; atualização legislativa na garantia do mínimo existencial; sem contar a choradeira dos Bancos ou do setor agropecuário, nada obstante ainda ausente uma efetiva reforma agrária e a demarcação definitiva das terras indígenas, etc. Isso é estatística, o resto é promessa ou ameaça.
(*) Caetano Lagrasta é advogado; desembargador aposentado do TJ/SP; jornalista nos idos de 64; escritor de obras jurídicas, poesia e literatura.
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