Até onde o PT irá na denúncia do abjeto partidarismo da mídia?
A campanha eleitoral à Presidência em 2014 vem exibindo marcantes diferenças de todas as campanhas que ocorreram no país desde 1994, quando PT e PSDB passaram a se enfrentar diretamente naquela e em todas as eleições subsequentes.
Algumas dessas diferenças são mais visíveis e óbvias. Pela primeira vez após 5 eleições polarizadas entre tucanos e petistas, a disputa em segundo turno, se houver, pode não ocorrer entre PT e PSDB, só que em prejuízo deste último e em benefício do PSB.
Ao longo dos últimos dias, espalharam-se boatos de que Marina Silva abriu larga vantagem sobre Aécio Neves. Esses boatos afirmam que 'tracking' encomendado pelo PSDB revelaria a virtual desidratação da candidatura tucana.
'Tracking', para quem não sabe, tem como objetivo medir diariamente informações assimiladas pelo eleitor. Assim, a divulgação das sondagens diárias (em geral, por telefone) possibilita aos leitores identificar com antecedência a tendência evolutiva das pesquisas.
Oriunda do inglês, a palavra 'tracking' significa rastreamento, trilha ou caminho.
Pois bem: o 'tracking' dos partidos estaria mostrando que Marina, agora, teria até 10 pontos de vantagem sobre Aécio. Mas não é só isso. Essas sondagens mostrariam que ela também já teria ultrapassado Dilma no segundo turno, em consonância com recente pesquisa Datafolha.
O PSDB e o PT parecem não saber como lidar com a influência eleitoral macabra que a morte de Eduardo Campos está exercendo sobre o eleitorado. Quem vai bater primeiro em Marina?
Os dois partidos que dividem entre si as disputas pela Presidência desde 1994 temem atacar Marina, mas sabem que, se não se contrapuserem logo a ela, os efeitos advindos da comoção pela morte de Campos podem cristalizar sua vantagem eleitoral.
Apesar de Marina representar risco real de derrota para Dilma no segundo turno – risco que o fraquíssimo Aécio não representaria devido ao seu gigantesco telhado de vidro e à sua imagem de playboy irresponsável –, o PSDB, ainda que nesse eventual segundo turno se alie à candidata do PSB, sofreria um baque que talvez lhe pudesse ser fatal.
A representação dos partidos no Congresso será definida no primeiro turno e se Aécio ficar em terceiro lugar a bancada tucana sofrerá forte redução após 12 anos minguando eleição após eleição – isso sem falar do DEM, que pode, inclusive, sumir ao longo da próxima legislatura.
O PT, por sua vez, tende a eleger número igual ou maior de deputados que em 2010 e o PSB pode continuar sendo o partido que mais tem crescido no país, eleição após eleição. Mas, desta vez, pode crescer muito mais.
A mídia já começa a se arrepender de ter inflado tanto a bola de Marina. Neste sábado (23), por exemplo, Veja e Estadão batem nela. Reinaldo Azevedo, porta-voz oficioso do PSDB, já tinha começado a bater em Marina durante a semana.
A mídia inflou Marina após a morte de Campos pensando apenas em gerar um segundo turno entre Dilma e Aécio. Colunistas tucanos como Elio Gaspari haviam previsto que Marina tiraria votos de Dilma por ambas serem “de esquerda”.
Este Blog já dizia que era uma aposta errada. Em primeiro lugar, quem se manteve firme no voto a Dilma apesar da artilharia midiática impressionante que a tem fustigado, não muda mais de opinião. E, além disso, de esquerda Marina não tem mais nada.
A campanha marinista é coordenada pela virtual dona do banco Itau; o economista que faz a cabeça dela é tão ou mais neoliberal quanto o aecista Armínio Fraga. Eduardo Giannetti é um economista daqueles que cultuam o Deus mercado e que vendem a tese de primeiro fazer o bolo crescer para depois dividi-lo, ou seja, que os ricos devem ser priorizados e quando ficarem suficientemente ricos aí dividem tudo com os pobres…
Na verdade, há quem acredite que um governo Marina seria mais neoliberal que um governo tucano.
A sintonia ideológica entre Marina e Aécio, portanto, é grande. Tão grande que o tucano já anuncia, em off, que irá apoiá-la se ela passar para o segundo turno com Dilma.
No xadrez da política, o acaso deu a Marina uma situação ímpar: ela cresce devido à comoção póstuma do eleitorado e, por conta dessa mesma comoção, atacá-la, mesmo que apenas politicamente, pode chocar esse eleitorado.
O PSDB não tem muito que fazer. Se atacar Marina para recuperar o segundo lugar, além de poder vir a ser inútil ainda impedirá os tucanos de apoiarem-na no segundo turno – ela mesma, dependendo do nível dos ataques, poderia recusar esse apoio.
O PT não tem tantos problemas com Marina. Ao menos no primeiro turno. Seu principal problema é a intensidade dos ataques da mídia. Sobretudo do Jornal Nacional. Na sexta-feira, o telejornal inventou desemprego no Brasil justamente no momento em que temos a mais baixa taxa de desocupação da história.
A tese do JN é ridícula: o desemprego estaria baixo porque as pessoas não procuram mais emprego, como se tivesse havido algum aumento exponencial do contingente de pessoas que não procuram trabalho.
A verdade é que o Brasil está gerando menos empregos não só pelo nível mais modesto de atividade econômica, mas, também, porque o nível de emprego está muito alto – é mais fácil criar muitos empregos quando o desemprego é grande, mas quando está muito baixo fica mais difícil.
Em relação aos que não procuram emprego, Globos, Folhas, Vejas e Estadões debitam o fenômeno a “desalento” de quem procura e não acha, o que é uma piada porque ainda persiste o fenômeno de empresas que precisam de empregados não estarem encontrando.
A verdade é que o aumento da renda ao longo dos anos recentes permite hoje a mulheres e jovens dedicarem-se, respectivamente, às tarefas domésticas e aos estudos. Simples assim.
Contudo, como a mídia – sobretudo o poderoso Jornal Nacional – vem se dedicando a metralhar Dilma sem parar, finalmente o Brasil está vendo uma reação do PT em uma campanha eleitoral na tevê.
Na última quarta-feira, Lula apareceu na televisão e no rádio fazendo a primeira crítica à mídia em um programa eleitoral desde a eleição presidencial de 1998. Em 2002, 2006 e 2010, o PT passou aquelas campanhas apanhando da mídia sem acusá-la.
A iniciativa de Lula de atacar “certa imprensa” na tevê mostra que, no comando da campanha de Dilma, venceu a tese do enfrentamento da mídia. Ao menos por enquanto. Dizer que essa tese venceu, aliás, deve-se ao fato de que o comando da campanha petista está dividido entre reagir e não reagir.
Nesse aspecto, vale refletir sobre até que ponto a campanha de Dilma vai reagir ao bombardeio da mídia. Hoje, Aécio e Marina têm sobretudo o Jornal Nacional, que tenta convencer o país de que ele está afundando.
Em 2006 e 2010, não funcionou. Mas talvez porque o ritmo da economia estivesse muito forte e porque a mídia optara por combater o PT dando maior peso a “denúncias de corrupção” contra petistas. Agora, com parcela muito maior do eleitorado acreditando na mídia, deixá-la vender a tese do desastre econômico iminente seria verdadeiro suicídio eleitoral.
Por isso Lula atacou a mídia no programa de Dilma de quarta-feira (21).
Mas até onde a campanha de Dilma irá na denunciação do partidarismo midiático? Lula fez um ataque pontual ou o primeiro de muitos?
A mídia não reagiu ao ataque de Lula; fingiu-se de distraída. Os colunistas de sempre não revidaram. Notinhas escondidas nos jornais limitaram-se apenas a registrar a primeira acusação à mídia em horário eleitoral em mais de 15 anos.
O Blog apurou que a mídia optou por não reagir a Lula para não lhe dar publicidade, pois a audiência do horário eleitoral ainda é pequena e uma acusação dessas, vertida por alguém com a credibilidade e a popularidade ainda muito fortes de Lula, pode ter efeitos imprevisíveis.
A edição de sexta-feira do Jornal Nacional inventando desemprego justamente quando o nível emprego no país está em seu patamar mais alto revela, antes de tudo, que a mídia está disposta a tudo. Se comete a vilania de dizer que o desemprego cresce justamente quando ele está tão baixo, o que mais pode vir por aí?
A opinião desta página é a de que a mídia irá aumentar o terrorismo econômico, combinando essa estratégia com as velhas denúncias de “corrupção”.
Ao PT, à campanha de Dilma, a Lula – inclusive como cidadão – não restará outra alternativa que não a de reagir à mídia. Mas até onde eles podem ir?
Se quiserem reagir, os petistas têm um arsenal considerável de elementos para provar que a mídia atua em favor da oposição.
Racionamento de energia que nunca ocorreu ou o “manchetômetro” da Uerj (estudo de divisão da universidade que mostra que a mídia critica Dilma de forma obsessiva e desigual) seriam instrumentos poderosos para convencer o eleitorado.
Mas a campanha de Dilma pode ir mais longe. Por exemplo, poderia explicar ao eleitorado que uma empresa como a Globo seria ilegal nos Estados Unidos, no Canadá, na França, na Inglaterra, na Alemanha, enfim, em qualquer país desenvolvido.
Os brasileiros não sabem que no Primeiro Mundo não se permite que grandes grupos de mídia concentrem propriedade de todas as plataformas – tevê aberta e a cabo, rádio, internet, imprensa escrita, telefonia etc. Nos EUA, aliás, há limite para audiência que uma tevê ou rádio podem ter.
Sim, é isso mesmo, a potência “marxista” do Norte obriga o dono de uma tevê a vender parte do negócio caso sua audiência ultrapasse um certo patamar. Tudo em benefício da pluralidade na imprensa.
A campanha eleitoral é curta. O PT e a própria Dilma – que, em tese, é quem dá a palavra final sobre a própria campanha – não têm muito tempo para pensar.
Tudo dependerá das próximas pesquisas. Se, além de ultrapassar consistentemente Aécio, Marina ultrapassar consistentemente Dilma em simulações de segundo turno, a campanha dilmista irá para cima da mídia muito antes de ir para cima da adversária de fato.
Até aqui, Lula deu só um aviso. Como seu ataque à mídia foi discreto, ela fingiu que não viu.
O ataque do ex-presidente à mídia e a reação passiva dela, porém, sugerem dois fatos. O primeiro é que o PT está muito preocupado com o avanço de Marina, e o segundo é que a mídia teme se tornar personagem da disputa eleitoral.
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