O publicitário Hayle Gadelha – que, apesar de marqueteiro, é um caráter de primeira – preparou, a partir das reflexões do professor Roberto Moraes, e manda-me uma análise da distribuição do eleitorado entre Marina Silva e Dilma Rousseff, tomando por base os números do Ibope, que a ele também fizeram franzir as sobrancelhas.
Mas, vá lá.
Reparem que curioso: os índices de Marina, além da esperada vantagem entre os evangélicos, são muito maiores entre os brancos e os de melhor renda.
Ela, a candidata que se definiu (AQUI) como negra ao TSE e tem origem pobre.
Embora eu não creia que seu crescimento vá se consolidar, por suas próprias fraquezas intrínsecas, a começar da notória incapacidade de agregar de Marina e pelo embrulho em ela que se meteu nessa aliança “programática” com Eduardo Campos, é sintomática a sua “adoção” por parcelas expressivas da classe média que ascendeu com Lula e seguiu assim com Dilma.
Deixo que Gadelha, mais tarde, no seu blog, comente esta distribuição eleitoral.
Fixo-me nisso: a dificuldade do PT – menos que a de Lula, aliás – em politizar a questão econômica.
Na desídia ou negligência da esquerda em associar a ascensão social ao desenvolvimento nacional e a um projeto de país autônomo.
Porque a direita sempre agita a ideia dos cortes de gastos e da entrega do país como caminho do progresso, um progresso que traga a modernidade (para ela), embora isso não tenha feito senão alienar o país e aprofundar nossos abismos sociais.
Em 2006 e em 2010, sem sombra de dúvidas, o discurso nacionalista esteve no centro do enfrentamento com o PSDB.
Embora não fosse da tradição petista, foi ele o cerne da decisão política da população em dar continuidade ao projeto político personificado por Lula.
Parece-me que há uma inibição incompreensível em voltar a este tema, agora aparentemente limitado pelas dificuldades econômicas que reduzem este discurso a um “o Brasil está preparado para crescer”.
E crescerá com o discurso que nos sugere Marina Silva?
Ela segue desfilando sua beatitude sem ser cobrada de respostas objetivas, diretas.
Ela quer manter o controle estatal sobre o petróleo, que agora – com o pré-sal – tem tudo para ser uma das molas do nosso progresso econômico? Ou irá adotar o discurso de que “é sujo, é poluente” enquanto os países ricos o queimam a rodo?
Vamos investir, com responsabilidade e firmeza na ampliação de nossa capacidade de gerar energia hidrelelétrica ou vamos acender velas?
Abriremos estradas, portos, ferrovias ou nos paralisaremos e vamos nos desenvolver com “a confiança dos investidores”, naturalmente alimentados por ganhos itaúticos?
Não se debate, nestas eleições, ao contrário do que se debateu em 2006 – pela negativa à privatização – e em 2010, pela esperança de Brasil, um projeto de nação.
Vocês notaram que as propostas de Marina Silva, além de repetirem a lenga-lenga neoliberal na economia (“tripé”, “autonomia do BC”, etc) não vão a lugar nenhum?
Até porque prometer mais e melhor educação, saúde, segurança e respeito ao meio-ambiente, desde que me entendo por gente, nunca deixou de estar na campanha de qualquer candidato.
Marina foca sua proposta no diálogo. Muito bem, mas sobre o quê?
E em que ambiente se desenvolveria este diálogo, sob os apetites de um Congresso sedento ante um governo sem forças próprias e de uma mídia cuja submissão ao financismo beira a vassalagem?
Essa é a opção que será feita, mas que não está sendo compreensivelmente explicada à população.
A história da prioridade ao “diálogo” e do “há gente boa em todos os partidos” é como aquelas “comissões de alto nível” que se nomeia quando não se quer chegar a lugar algum.
O conservadorismo brasileiro precisa não de um governo que faça, mas de um governo que não faça.
Porque, não fazendo, tudo se conserva como está e está, naturalmente, bom para quem está ganhando e dominando.
Como resumiu Diego Mainardi, hoje, é preciso mudar os bandidos.
Só o que ele não diz é que isso é necessário para que o crime continue a ser praticado.
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