A ideia do novo na política brasileira
Wagner Iglecias (*)
Um dos argumentos mais usados pelos mais diversos políticos na História brasileira é chamar para si e para seu grupo a perspectiva do novo. Parte-se do pressuposto de que a estrutura política existente está carcomida e é preciso inaugurar uma nova era. Sob a vanguarda do grupo político que se auto-intitula portador da novidade, obviamente. O mais recente exemplo é aquilo que parece ser o principal slogan de campanha da candidata Marina Silva (PSB), que diz querer ser presidente da república para inaugurar a “nova política”.
Mas o fenônemo não é exatamente inédito e nem recente. E nem é só brasileiro. Regimes socialistas mundo afora pretenderam criar o “novo homem”. No que não foram bem sucedidos, como se viu depois. Nos anos 1930 o então presidente dos USA, Franklin Delano Roosevelt, lançou o “New Deal”, amplo programa econômico de inspiração keynesiana destinado a tirar aquele país da depressão econômica. Aqui, na mesma época, tivemos a inauguração do Estado Novo, período mais duro da ditadura de Getúlio Vargas, no qual de fato foram lançadas as bases do Brasil moderno, industrial e urbano, que a partir de 1937 finalmente adentrava ao século XX e deixava para trás o seu perfil de velha fazenda agro-exportadora. Perfil talvez recuperado mais recentemente, conforme atestam os dados da nossa Balança Comercial.
O século XX brindou o país ainda com a “Nova República”, de José Sarney, a partir de 1986, pela qual se dizia que uma nova época estava se iniciando, deixando para trás os 21 anos de ditadura militar e inaugurando uma nova dinâmica nas relações entre Estado e sociedade civil. Naufragada na inflação e em denúncias de corrupção e fisiologismo, ela foi substituída pelo “Brasil Novo”, de Fernando Collor de Mello, entre 1989 e 1992. Brasil Novo que acabou quando Collor sofreu o processo de impeachment pelo Congresso Nacional, também por conta de denúncias de corrupção.
Diante dos vários insucessos no combate à inflação ao longo do século passado a ideia de novo também foi usada na economia. O Brasil teve os chamados “Cruzeiro Novo”, entre 1967 e 1970, e “Cruzado Novo”, entre 1989 e 1990, criados após reformas monetárias destinadas a combater a corrosão do valor das cédulas de dinheiro diante de processos inflacionários galopantes. Ambas as medidas mostraram-se fracassadas pouco depois.
Marina Silva apenas repete o que tantos outros já fizeram no passado. Anuncia uma “nova política”, mas por seu discurso tão similar ao de tantos outros políticos, e por seu tão heterogêneo arco de apoios no meio partidário e na sociedade civil, parece ser uma candidata tão tradicional quanto tantos outros, de hoje e do passado. Tomara que este humilde escriba esteja enganado, e que não estejamos diante, novamente, de um museu de grandes novidades, como diria não o novo, mas o eterno Cazuza.
(*) Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
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