As supostas ações 'espontâneas' de massa e a manipulação da 'ultraesquerda' pelos conservadores
Salvo melhor juízo, não se pode dissociar a mobilização de qualquer movimento de massa de uma estrutura política que lhe propicie a mais elementar organicidade. Entendo pertinente que os grupamentos partidários(notadamente os ditos à esquerda do espectro político) tomem iniciativas no interesse público, em torno de ações que visam a gerar ações coletivas reivindicatórias. Afinal, não é lícito discriminar(como foi dito nesta sexta, 14, na BandNewsFM) eventual registro de bandeiras de partidos e outros segmentos organizados na solidariedade a quem quer que seja e em qualquer circunstância, sugerindo uma atmosfera 'asséptica', de visão purista excludente, às manifestações sociais.
Nenhuma manifestação nasce do 'nada', de um arroubo espontâneo que eclode de repente, como 'a flor do asfalto' florescida no lirismo taciturno de Drumond. É previsível que formadores de opinião, a partir dos mínimos embates corporativos, tragam à luz ideias de fortuitas insatisfações em relação ao 'status quo', na perspectiva da reformulação de conceitos vigentes. Pensar, por exemplo, que as revoltas da recente 'Primavera Árabe' decorreram de um nascedouro de inconformações isoladas, subitamente consolidadas pela grita popular contra governos autoritários no Oriente Médio, é endossar a teoria bíblica do Gênesis, a partir de Adão moldado em barro no sétimo dia da Criação. É creditar, em nosso caso, a 'iluminados' emersos do acaso os protestos, com subsequentes depredações que originaram recorrente repressão policial, nas avenidas Paulista e Presidente Vargas.
O 'Fora Collor', lembremo-nos, emergiu nos bastidores do PIB paulista, face às maquinações e chantagens do esquema financeiro executado por PC Farias & cia, em movimento assimilado nos bastidores da UNE e outras entidades estudantis, sob a midiática marca dos 'caras pintadas' afinal adotada como signo contra os 'malfeitos' engendrados nos intestinos da famigerada e mequetrefe 'república das Alagoas', em 1992. Antes, o 'Diretas-já'(1984) se consolidara no processo de apodrecimento da ditadura militar e a embrionária retomada política com a vitória eleitoral do MDB no final da década de 1970, encurralando nas urnas o poder autoritário encastelado na ARENA. E a 'anistia' de Figueiredo(livrando sagazmente, também, a cara dos torturadores, como se sabe) evidenciou, em 1979, que o absolutismo dos milicos se fora pelo ralo.
Um detalhe sutil, entretanto, trazido à tona por Paulo Henrique Amorim(Conversa Afiada), no caso das atuais manifestações em São Paulo e no Rio de Janeiro, demonstra como nossas impolutas e 'revolucionárias' 'ultraesquerdas', acomodadas nos PSOL, PSTU, PCO e outros surrealistas grupamentos políticos, urdidos em acalorados convescotes universitários, fazem açodadamente o jogo dos conservadores: sem a presença de trabalhadores, com inserção de 'limpinhos e cheirosos', as passeatas paulistanas mais parecem convenção do PSDB. Só faltou o Serra, hoje desafeto intramuros do Alckmin e do Aécio, à frente dos protestos contra o reajuste nas passagens de coletivos, concedido, segundo o prefeito Haddad(PT), em percentual abaixo da inflação. (AMgóes)
EM TEMPO - Os serviços(concedidos) de transporte público no Brasil, são executados por oligopólios que, via de regra, atropelam literalmente a população. A solução passa ao largo da ideia simplista de estatizar as empresas. Exige-se liminarmente o cumprimento incondicional da lei, que obriga os concessionários à rigorosa observância do interesse social. Dependemos, todavia, de um aparelho judicial mais 'justo', célere e sensível às prementes demandas do Estado brasileiro, que somos todos nós.
Um comentário:
Excelente ponto de vista.
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