A confusão sobre o aumento do risco Brasil
Há problemas na condução da política econômica, mas não é preciso forçar a barra para criticar o governo.
Luis Nassif
Há uma enorme dificuldade na gradação da crítica econômica.
É evidente que há problemas na condução da política econômica. Aqui mesmo tenho apontado esses problemas.
A partir dessa constatação, não há limites para se forçar a barra.
A manchete principal da Economia do Estadão de ontem é sobre a relevante informação de que o "risco Brasil" é o maior... desde junho do ano passado, refletindo o aumento da desconfiança em relação aos fundamentos da economia.
Se em junho do ano passado, em perfeitas condições de vôo, o risco Brasil era superior ao de hoje, certamente o fato que estimulou o risco é externo à economia brasileira.
O "risco Brasil" é a diferença entre a remuneração dos títulos do Tesouro americano e os brasileiros.
RBr = T Br - T EUA
Onde RBr é o Risco Brasil, T Brasil é a remuneração do título Brasil e T EUA a remuneração do título nos EUA. Vou montar o exemplo em cima de números redondos, para facilitar a explicação.
Como estava antes? O RBr estava em 173 pontos (ou 1,73 de diferença). O T EUA em 1,00 e o T Br em 2,73:
1,73 = 2,73 - 1,00
Com os dados da recuperação da economia norte-americana, há a expectativa de que o FED (o Banco Central dos EUA) deixe de lado a política monetária expansionista - e de juros baixos - e comece a elevar os juros. Prevendo esse movimento, os investidores internacionais passam a analisar o "risco" dos demais países em relação ao futuro patamar dos títulos norte-americanos.
Digamos que eles estimem que a taxa dos títulos dos EUA aumentarão para 1,37. Imediatamente eles farão o ajuste e estimarão um novo piso para o título Brasil:
Voltemos à nossa formulinha básica:
RBr = TBr - TEUA ou T Br = RBr + TEUA
Se o mercado acredita que o T EUA passará para 1,37, mudará o que ele espera pagar pelo T Br:
T Br = 1,73 + 1,35 = 3,08
Ou seja, mantido o mesmo risco Brasil de 1,73, a remuneração básica do T Br teria que aumentar para 3,08 meramente para acompanhar o aumento da T EUA.
Acontece que, na hora de medir o "risco Brasil", o mercado não faz esse ajuste. Compara a expectativa dos agentes, face ao novo cenário, com os juros americanos antes da elevação.
A conta fica assim:
R Br = 3,08 - 1 = 2,08
Para o mercado não há problema, porque ele sabe fazer a leitura. Sabe que esse aumento do risco Brasil reflete apenas a expectativa de elevação dos títulos norte-americanos.
Como nossa imprensa tem dificuldades para tanto, considera que esse aumento de 173 para 208 significou "aumento da desconfiança" em relação ao Brasil. Mas o fenômeno alcançou todos os mercados emergentes.
Nos últimos 30 dias, o risco Colômbia subiu 45%; o do Peru, 35%; o da África do Sul, 31%, o do México, 26%; o da Rússia, 19%.
É evidente que a elevação das taxas norte-americanas traz um complicador adicional para o Brasil. Encarecerá a atração de capitais externos, no momento em que a queda do superávit comercial e as perspectivas de queda ainda maior, com as exportações de commodities, exigirão recursos cada vez maiores.
Mas esta percepção ainda não foi incorporada ao chamado risco Brasil. A única coisa incorporada foi o terrorismo econômico midiático.
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