A presidenta Dilma Rousseff se apresentou melhor no debate promovido nessa terça-feira(14) pela Band. Em alguns momentos chegou a encurralar seu adversário, Aécio Neves, que, apesar da facilidade com que maneja a palavra, não respondeu à maioria das perguntas, sofismando, driblando o assunto ou atacando. A certa altura perdeu o equilíbrio e a serenidade quando ela abordou a questão do aeroporto de Claudio e repetiu a mesma reação que teve quando, no debate da Globo, Luciana Genro levantou o tema: sem argumentos convincentes, usou contra a candidata petista a mesma palavra agressiva lançada contra a candidata do PSOL - "Leviana".
Percebeu-se, mais uma vez, que o ponto fraco do candidato tucano é o aeroporto de Claudio, construído com dinheiro público em terras do seu tio, quando era governador de Minas Gerais. A denúncia foi feita pela "Folha de S. Paulo" e as tímidas explicações dadas por ele até hoje não conseguiram convencer ninguém. Aécio também ficou sem palavras, meio atordoado, quando Dilma o acusou de nepotismo no governo de Minas, para onde nomeou vários familiares. "Eu nunca nomeei um só parente para o meu governo", ela disse. O senador apagou o sorriso irônico do rosto e, sem ter como refutar a acusação, mudou de assunto.
A candidata do PT, certamente por não ter de enfrentar seis adversários neste debate, esteve mais tranquila e mais solta. E talvez por isso também conseguiu anular o principal mote do candidato do PSDB – a corrupção na Petrobrás – afirmando que todos os corruptos descobertos no seu governo foram ou estão sendo punidos, enquanto no governo de FHC, do partido dele, todos os casos de corrupção foram varridos para debaixo do tapete e ninguém sofreu qualquer punição. Lembrou os rumorosos escândalos da "pasta cor-de-rosa", do "Projeto Sivam", da compra de votos para a "reeleição" e, atualmente, da corrupção no metrô de São Paulo e do mensalão tucano, todos impunes.
Por conta de citações de episódios do governo de FHC, lembrados para efeito de comparação, Aécio criticou Dilma, afirmando que ela governa olhando pelo retrovisor, ou seja, para o passado. Ela deixou claro que isso se justifica pelo fato de que as propostas de governo dele remetem para os mesmos erros cometidos por Fernando Henrique. Além disso, o candidato tucano já sinaliza a formação dos seus auxiliares com os mesmos nomes que constituíram a equipe de FHC, entre eles Armínio Fraga, que foi presidente do Banco Central e agora, num eventual governo de Aécio, seria o seu ministro da Fazenda. Na oportunidade, a presidenta lembrou os níveis de inflação daquela época, bem superior aos atuais, além dos juros de 45%, destacando ainda as ameaças de privatização dos bancos públicos, entre eles o BNDES e o Banco do Brasil.
Vale lembrar que todas as vezes em que o assunto em foco é economia, o candidato tucano afirma que foi o então presidente Fernando Henrique, do seu partido, que estabilizou a moeda, através do Plano Real, e baixou a inflação, que recebeu em torno de 900%. Uma baita mentira que vem sendo disseminada há muito tempo como se fora verdade: foi no governo do presidente Itamar Franco – e não de FHC – que o Real foi implantado e baixada a inflação para cerca de 7%. Os tucanos sempre cometem essa injustiça com o mineiro de Juiz de Fora que, apesar do mandato tampão, conseguiu estabilizar a economia do país. Como dizia Confúcio, uma mentira dita mil vezes vira verdade.
A certa altura do debate, depois de afirmar que o governo de Dilma fracassou e faliu na saúde, educação e segurança pública (a julgar pelo quadro que pintou o Brasil acabou) Aécio garantiu que transformou Minas Gerais no mais próspero Estado da Federação, um verdadeiro paraíso, deixando o governo com 92% de aprovação popular. "Então - perguntou Dilma – por que o senhor perdeu a eleição lá?" Por mais surpreendente que possa parecer, ele respondeu garantindo que venceu o pleito em Minas. Como os dois são mineiros, o debate acabou se transformando numa briga de conterrâneos, com Dilma lembrando que foi obrigada a sair de Minas em virtude da perseguição de que foi vítima por parte da ditadura militar.
O fato é que depois desse debate, que garantiu à Band audiência absoluta na noite de terça-feira, o eleitor provavelmente já não tem mais dúvidas sobre em quem vai votar no próximo dia 26. Durante hora e meia os dois candidatos tiveram tempo suficiente para trocar acusações e expor seus projetos, praticamente repetindo as mesmas palavras pronunciadas nos debates do primeiro turno. Não há mais necessidade, portanto, de novo debate, pois seria um replay do promovido pela Band, com a repetição enfadonha dos seus discursos. Agora é prosseguir na caça aos votos, corpo a corpo, e esperar o veredito das urnas.
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