Flávio Aguiar
Esta foi uma eleição em que os erros contaram mais do que os acertos. No final, ganhou quem errou menos, sobretudo na batalha final que, como se sabe, é a mais importante. Pirro e Aníbal que o digam.
Vamos a eles. Claro está que quando escrevo o nome de uma pessoa, me refiro a ela e à sua equipe.
1) Dilma Rousseff - Foi a primeira a errar e a última a acertar. Há um ano e meio atrás, ela e o governo davam a reeleição como favas contadas, com poucas vozes divergentes. Era falar das realizações e pronto, estava feito. Aí vieram as manifestações de junho. Não só mudaram a pauta da discussão política, como revelaram um terreno fértil para a direita nadar de braçada: as precariedades da vida brasileira ainda são tantas, que é fácil acusar o governo de plantão como culpado de tudo, até da “descoberta” do Brasil pelos predadores europeus, a escravidão, etc. Mas ela (aí sim, sobretudo ela, muito mais do que o PT, por exemplo) se recuperou bem. E na reta afinal acertou. Inclusive no discurso da vitória, firme, mas apaziguador. Bom, vamos ver, porque a direita não aceita apaziguamento facilmente. Vejam a atitude do Conselho Federal de Medicina, ao exigir, como “condição” para o diálogo, a suspensão do Programa Mais Médicos. Parece até que foram eles que tiveram 53,5 milhões de votos e ganharam a eleição. Estão entrando num surto psicótico, negando a realidade. Precisam de uma terapia de grupo, urgente.
2) Eduardo Campos - É complicado falar de quem morreu, tragicamente, no decurso dos acontecimentos. Mas ele errou também. Errou ao, no afã de captar votos, se moveu em direção à direita, fazendo alianças com ex-PFLs, como a dinastia dos Bornhausen, Heráclito Fortes, etc. Não captou mais votos à direita, perdeu muitos à meia-esquerda. Sua morte, quero registrar, foi uma perda para o Brasil. Podia ser um político promissor, diante do esclerosamento que está tomando conta do PSDB.
3) Marina Silva - Aí a comédia de erros atingiu um de seus ápices. Como já descrevi outros antes, vou me referir somente ao último. Ela apresentou uma lista de reivindicações ao Aécio no segundo turno, não viu atendida quase nenhuma, e o apoiou. A sua lista era baseada no programa de seu eleitorado mais progressista. Levantou a bola para o Aécio errar: ao tergiversar, ele afastou de si parte considerável deste eleitorado. Obrigado, Marina!
4) Aécio Neves - O candidato cometeu o erro de se superestimar e de se subestimar. Superestimou seu potencial de votos em Minas, sua imagem de bonvivant descontraído, superestimou a lealdade de seus sorreligionários de PSDB, superestimou seu estilo de campanha, agressivo, arrogante, jactancioso, sempre no ataque, agredindo gregos, troianos e… sobretudo mulheres. Foram imperdoáveis seu dedo em riste para Luciana Genro e seus insultos de que Dilma era “mentirosa”, e – sobretudo – “leviana”. Podia ter dito, “a senhora repete afirmações equivocadas”, ou “a senhora está enganada”… Perdeu milhões de votos femininos aí. Fatal. E se subestimou: sua fama de playboy descompromissado, surfista durante a ditadura, amigo dos mercados, censor de Minas Gerais, machista, foi maior do que ele poderia supor. À mulher de César não basta ser honesta, tem que ser honesta também. É, mas ao César também.
5) PIG – O Partido da Imprensa Golpista – Veja à frente – superestimou seu potencial. Sua hegemonia hoje já não é mais a mesma de 1989. Ainda não reconheceram o poder da revolução digital e virtual. Além de fazerem uma campanha sórdida – contra a Copa, contra tudo o que o Brasil tem de bom – durante o ano inteiro, acharam, na reta final, que uma capa de Veja e uma edição de seis minutos desta capa no JN de sábado bastariam. É, quase que deu, mas não deu. Foi mas não foi. O JN teve de correr de volta e entrevistar a vencedora em cima da bucha. Há gente que a critica por ter dado a entrevista. Eu não. É mais ou menos como entrar na Casa Grande do adversário e dizer: “ó, eu venci”. Além de que uma presidenta tem que comparecer a todos os espaços.
6) PSB – perdeu pontos, apesar de ter ganho mais cadeiras no Congresso. Fez a vergonheira de reproduzir a capa de Veja. Beijou a mão do PIG, e na hora errada. Perdeu quadros importantes. Seu futuro agora é ir para a direita e disputar espaço com o PSDB. Errou feio ao expor suas entranhas deste jeito.
Erros de análise. Já estão analisando que a votação na Câmara de Deputados contra o Plano de Participação Nacional da presidenta Dilma é uma dissidência em busca de favores, cargos, mostra de poderes, etc. Pode até ser. Em parte. O que ocorre é que o estamento (talvez devesse dizer “casta”) político brasileiro é, na maioria, visceralmente contra qualquer coisa que se assemelhe a “consulta” ou “iniciativa” popular, “plebiscito”, estas coisas. E nisto tem o apoio decido do PIG.
O PT pode cometer dois erros. Um, o de achar que nada tem a mudar, de fundo. Tem sim: política para jovens, meio-ambiente, coibir o contato de seus quadros com este submundo pantanoso da política no Brasil. Outro, que também pode ocorrer, achar que tem de mudar tudo: tornar-se um partido da ordem, aprofundar os laços com a vitória capitalista no Velho Mundo e no Hemisfério Norte.
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