Não se iludam, eles não
vão desistir do Brasil
Gustavo Castañon
Em que país da Europa eles poderiam pagar a carga tributária que pagam no Brasil, e ainda dizer que ela é alta? Onde lá poderiam pagar menos impostos que os pobres?
Eles só gostam de ir para a Europa para fazer turismo. Não gostam de limpar a própria privada. Como disse o Aécio, muitos deles nunca fizeram nem sua própria cama. Como suportariam uma vida onde precisam limpar a própria casa e há tão poucos sinais de diferenças de classe? E o sentimento de pertencer a uma classe superior, que alimenta suas existências fracassadas? Como fica? Não. Eles não vão.
Não, nem pra Miami. Em que outro país do mundo civilizado eles poderiam ainda ter uma empregada doméstica? Certamente não nos EUA. Em que outro país eles poderiam manter um exército de miseráveis a explorar com o salário mínimo brasileiro? Faxineiras, babás, lixeiros, policiais filhos da classe baixa explorados como escravos para proteger seus patrimônios, morrendo e matando outros miseráveis… Não, eles não vão.
Aqui eles podem se jactar de seus conhecimentos técnicos como se fossem educação privilegiada. Podem se orgulhar de seu analfabetismo funcional que os torna incapazes de distinguir entre a informação e a opinião de um jornalista. Aqui eles batem no peito para ostentar o acompanhamento de programas de um canal de notícias de TV fechada e a leitura de um pasquim semanal como auge da cultura pessoal. Não, eles não vão sair daqui.
Em que outro país civilizado do mundo eles teriam garantido o futuro de seus filhos, do mais retardado e vagabundo ao mais brilhante e trabalhador, simplesmente pela classe onde nasceu? Em que outro país do mundo poderiam chamar isso de meritocracia?
Onde mais poderiam criar seus filhos, ensinando-os que há cidadãos de primeira e segunda classe? Aonde poderiam estar acima da lei dependendo de quanto dinheiro tem? Aonde poderiam ser representados por um partido político que é o mais corrupto do país e está totalmente acima da lei e da justiça e se jactarem de serem decentes e honestos? Não, em nenhum lugar do mundo.
Em que outro lugar do mundo, em que outro, poderiam ter formado patrimônio recebendo em juros reais dos fundos dez, quinze por cento por dez anos? Ou antes, jogando no overnight? Em que outro lugar do mundo continuariam a ter agora rendimentos reais de 5 por cento ao ano em fundos e no tesouro direto? Onde arrumar dinheiro das sobras do saque do estado promovido por seus patrões? Não, eles não vão.
E em que outro país eles poderiam viver pagando menos impostos proporcionais que os mais pobres e ainda afirmar serem explorados por eles? Em que outro lugar do mundo poderiam explorar sua força de trabalho e ainda afirmar que que eles é que criam empregos e são somente eles que produzem no país?
Que outro país do mundo eles poderiam ter mantido o mais desigual do planeta por cinquenta anos enquanto impunham o mito da cordialidade do brasileiro e mantinham o escravagismo mais selvagem aplaudindo a alegria do povo no carnaval?
É por isso e muito mais que eles vão ficar. Eles sempre vão ficar. Eles não vão lutar de peito aberto porque são covardes. Eles vão querer que façam o serviço sujo por eles. A mídia. O judiciário brasileiro que é seu aparelho de classe. Os buchas de classe média baixa, o exército com seus soldados oriundos das classes mais desfavorecidas.
Mas eles vão se agarrar com unhas e dentes a esse país, para garantir que o banquete de pobres e miseráveis de seus donos seja tão farto que possam continuar se alimentando das migalhas de sua mesa, vão lutar contra a verdadeira meritocracia, contra o acesso universal à educação e à educação superior, contra a saúde pública universal, contra os programas de distribuição de renda. Eles são perigosos. Eles são o egoísmo, a injustiça, a mesquinhez e a irracionalidade que fez desse país rico um dos dez mais desiguais e injustos do mundo. E eles não vão desistir desse Brasil.
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