A antipolítica é a nova
(e velhíssima) direita
Fernando Brito
Uma das melhores coisas dos jornais desta sexta(31), além de ver a tucanagem cair no ridículo e facilitar a vida de Dilma Rousseff com sua (AQUI) estúpida e extemporânea “denúncia” de fraude eleitoral, é a entrevista do filósofo Paulo Eduardo Arantes, professor aposentado da USP (Universidade de São Paulo), na Folha(AQUI) de S. Paulo.
Com o perdão de alguns que possam ter se iludido pelas falsas semelhanças com a esquerda – afinal, nós, da esquerda, gostamos de rua, de manifestação e de juventude – Arantes vai ao ponto: as “jornadas de junho” foram o parto de uma nova direita no Brasil.
Arantes identifica ali a eclosão social de uma nova força, semelhante ao neoconservadorismo americano – cuja versão mais explícita é o “tea party”.
Uma direita que “não está mais interessada em constituir maiorias de governo. Está interessada em impedir que aconteçam governos. Não quer constituir políticas no Legislativo e ignora o voto do eleitor médio. Ela não precisa de voto porque está sendo financiada diretamente pelas grandes corporações”
Seus integrantes, com o estererótipo do “branco bem sucedido” – onde mais significativo que a chapinha ou a tintura loura é a vaga noção de superioridade congênita – podem, diz o professor “”se dar ao luxo de ter posições nítidas e inegociáveis. E partem para cima, tornando impossível qualquer mudança de status quo.”
Historicamente – e aqui quem se aventura na explicação sou eu – nada de novo.
Igualmente a UDN nasceu de uma pequena burguesia que se afirmou como fruto do Brasil urbanizado e modernizado que vinha da Era Vargas. E reunia tanto as senhoras da TFP quanto alguns “sonháticos”que se vestiam da pureza virginal do moralismo.
Há outras considerações na entrevista de Arantes – cuja leitura recomendo. Uma das mais brilhantes, a meu ver é a que fala da sofreguidão que a ascensão social imprimiu numa parcela expressiva desta classe média muito mais consumidora que cidadã: “desaprendemos a esperar. Isso é que mudou”.
É bom que nos acostumemos: isso não vai desaparecer. Ao contrário, esta direita negadora da política – e, portanto, das mudanças reais – vai continuar existindo.
De um lado, a sua face mais grosseira – os Telhada, Bolsonaros, Malafaias, pedindo um Estado repressor de hábitos e, sobretudo, de mudanças de hábitos sociais cujos protagonistas, com igual sofreguidão, não percebem que estão acontecendo e, ao radicalizá-las de forma vazia, alimentam sua reação.
Mas de outro, muito mais perigoso, a de uma parcela da classe média e média-alta que quer, na política, apenas que o Estado encolha, suma, desapareça quase – exceto como provedor de “segurança” – porque não admite o caminho para um país igualitário que lhes roube a – às vezes recém conquistada – condição de elite.
Ou melhor: de sub-elite, crua, inculta, vazia e, pior, má e desumana como a da colônia.
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