Eleitor do PT trocou ideologia
por consumo, mas PSDB não
percebeu
a mudança
Explicações para vitórias e derrotas são sempre possíveis. Nem sempre precisas, nem sempre integrais, nem sempre convincentes ou amplas o suficiente. Uma campanha eleitoral tem aspectos múltiplos. O ambiente econômico ajuda a entendê-la. A narrativa política pode ser mais ou menos eficiente. O arranjo das propostas dos candidatos à expectativa dos eleitores é condicionado pelos fatores anteriores.
Entre as muitas explicações para a vitória de Dilma Rousseff (PT) na disputa à Presidência, extraio abaixo algumas das boas observações do marqueteiro e antropólogo Renato Pereira em entrevista à edição desta segunda da Folha de São Paulo.
Pereira conduziu a vitória de Luiz Fernando Pezão (PMDB) ao governo do Estado do Rio de Janeiro. Quando começou a campanha, Pezão patinava com 5% dos votos e tinha a pesar no ombro a rejeição do governador Sérgio Cabral, que sequer arriscou ser candidato tal o grau de impopularidade. Pezão não é um candidato fotogênico, não tem discurso fluente nem experiência parlamentar. Pereira escondeu Cabral da campanha, explorou a face de homem comum e de trabalhador de Pezão. Teve uma vitória tranquila e inesperada para quem começou a campanha entre os nanicos.
O marqueteiro foi o responsável pela pré-campanha de Aécio Neves até dezembro de 2013. Saiu por desentender-se com o candidato e com os grão-tucanos sobre que discurso adotar. Na visão de Pereira, Aécio “pregou para convertidos”. Ou, como apontou o jornalista Elio Gaspari, o PSDB fez campanha de forma que o eleitor tucano fosse às urnas com duas vezes mais raiva do que estava do PT. O problema é que a raiva duplicada continua a valer um voto só. Campanha eleitoral tem de agregar votos e apoios.
A campanha de Aécio errou ao contrapor o discurso de promessas que alteram a vida real do eleitor feito pelos petistas (Bolsa Família, Prouni, Pronatec, Mais Médicos) a vagas demonstrações da ideia de mudança e pureza política. O marqueteiro critica, por exemplo, o anúncio antecipado da escolha de Armínio Fraga como eventual ministro da Fazenda. “Foi o que permitiu ao PT tornar tangível a narrativa do governo de ricos versus de pobres. Ao anunciar o Armínio, Aécio buscou ganhar credibilidade. Mas só entre quem já votava nele.”
A pregação anticorrupção, eixo central da campanha de Aécio, é relevante, mas atraía a parcela que já priorizava o voto contra o PT. “Aécio foi muito eficiente em pregar para os convertidos, mas para ganhar a eleição ele tinha que converter novos eleitores. O tema central é a economia do cotidiano, o poder de consumo, mais e melhores empregos e perspectivas melhores de futuro”, disse Pereira.
O marqueteiro aponta uma mudança do eleitor petista à qual o PSDB não se atentou. O eleitor do PT, no passado, foi ideológico. Agora é um eleitor do consumo. Antes era apegado aos dogmas da esquerda; hoje prioriza ascensão social e conforto. “A razão da candidatura era tirar o PT do poder. Não é um discurso eficiente com o eleitor que definiria a eleição, a classe C”, concluiu.
O eleitor do PT não é mais o mesmo. O PSDB escolheu como arma de combate o viés ideológico, que era arma antipetista das décadas passadas. O eleitor petista estava agarrado não a convicções políticas, mas a realidade à sua volta. Não abraçou a bandeira vermelha, mas objetos de consumo ao qual teve acesso recente e temia perder. As conquistas materiais ocuparam o espaço físico do imaginário.
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