Como ‘Globope’ e ‘Datafalha’ manipulam
a “margem de erro”
Isso não é margem de erro, professor. É “margem de acerto”…
CONVERSA AFIADA
O Conversa Afiada reproduz da :
‘NÃO SE PODE CONFIAR NELAS’, DIZ ESTATÍSTICO SOBRE PESQUISAS ELEITORAIS
São Paulo – Para o professor aposentado da Unicamp José Ferreira de Carvalho, consultor da empresa Statistika e um dos profissionais mais reconhecidos da área de estatística no país, as pesquisas eleitorais divulgam margens de erro que não podem ser comprovadas cientificamente. Em relação à discrepância dos números apresentados neste segundo turno da disputa eleitoral à Presidência da República por vários institutos, ele é enfático. “É mais fácil você acertar na Mega-Sena do que acontecer uma coisa dessas”, destaca, em entrevista à RBA.
A partir da análise dos números díspares apresentados na reta final do pleito e dos métodos dos institutos, que têm sido duramente criticados neste ano por terem errado os percentuais finais de votos válidos de alguns candidatos a presidente, governador e senador, o professor ressalta que a margem de erro não é um “projeto estatístico” e que não se deveria permitir a sua declaração, por ser “tecnicamente incorreta.”
Leia, na íntegra, a entrevista com o professor José Ferreira de Carvalho.
A margem de erro divulgada não é científica?É verdade. Não é um projeto estatístico. Não se baseia em estatística. O que a gente pode dizer, garantidamente, é que a margem de erro que calculam não tem justificativa. Eles calculam como se a amostra tivesse sido aleatória, mas o fato é que ela não é.
A justificativa tem a ver com o custo e rapidez?
É verdade. Para fazer uma amostra aleatória, como o IBGE faria, você teria que ter a lista dos eleitores, seus endereços, e quem for sorteado, tem de ir atrás. E isso é caro, demora muito. Agora, uma coisa é certa: você não pode permitir que declarem uma margem de erro que tecnicamente está incorreta. A declaração, portanto, é falsa.
É falsa?
Exatamente. E aí você vai para a parte empírica. Eles dizem que “Deus” aleatorizou para eles, vamos verificar fazendo uma comparação com o resultado das eleições com as pesquisas mais próximas do sufrágio propriamente dito.
Bom, nós temos levantamentos em que as margens não batem coisa nenhuma. Os desvios que se obtêm dão fora da margem de erro com uma frequência muito mais alta do que seria estatisticamente de se esperar. Você não pode, seja qual for a razão, usar as fórmulas da amostragem aleatória para cotas.
Esse método por cotas é exclusividade do Brasil ou é um padrão internacional?
Eles não inventaram isso. Eles trouxeram isso de institutos de pesquisa da Inglaterra e da França. Esse grandes institutos, Ipsos, etc, estão por trás da formação dessa turma toda. Além disso, esses institutos brasileiros estão nas mãos não de estatísticos, mas de sociólogos, cientistas políticos, gente que, em geral, é avesso a matemática. Acabei de escutar um conferência do professor Fernando Henrique Cardoso, com todo o respeito, o que ele diz: ‘bom, eu sou sociólogo, não sei resolver uma equação de segundo grau’.
Na Inglaterra, houve um problema sério com essas pesquisas por cotas na década de 1950. Então, o próprio governo inglês encomendou um estudo que foi feito. Usaram amostragem aleatória e por cotas em paralelo para uma mesma temática. E compararam os resultados. Empiricamente, as tais amostragens de erro por cotas eram bem maiores do que a aleatória. Isso está publicado.
Outro exemplo, se você quiser, é o Instituto Gallup, que fazia pesquisas por amostragem e não aguentou a concorrência do institutos que faziam por cotas, de forma rápida e rasteira. Mas nos EUA, eles [Gallup]participam de todas as pesquisas de presidente e têm publicado os resultados desde 1936 e por cotas. Aí deu problema nos anos de 1936 e 1946. E, em 1952, eles mudaram.
No segundo turno das eleições presidenciais deste ano, já saíram algumas pesquisas de intenção de voto para a presidência. Entre os números, as diferenças de intenção de voto entre Dilma Rousseff e Aécio Neves passam por oito, 17 pontos e empate técnico. Dá para confiar em pesquisa eleitoral no tanto que se confia no Brasil?
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