segunda-feira, 1 de junho de 2015

CBF e a cara

do Brasil         

(Luis Nassif)               Luis Nassif Online imagem de Delegado Iegas
Há muitos anos se sabe que uma das caras do crime organizado é o futebol, nas suas vertentes de comércio de jogadores e de torneios.
No Brasil, o antigo presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira, montou uma blindagem intransponível no Judiciário carioca e na Polícia Federal. A exemplo de outras figuras poderosas - como o presidente da Câmara Eduardo Cunha e o Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes - passou a sufocar os críticos com montanhas de processos, saindo ileso de todas as ações contra ele.
Essa blindagem permitiu-lhe passar isento pela CPI da Nike, que visava apurar denúncias de corrupção na entidade. Nenhum órgão de fiscalização interno - nem PF, nem Ministério Público Federal - ousou avançar contra os esbirros do setor.
Assim como no caso Alstom, foi necessário uma investigação externa para levantar o véu dos malfeitos do futebol brasileiro.
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É fácil entender as razões dessa blindagem.
O atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, é estreitamente ligado ao influente deputado petista Vicente Cândido. Este foi vice-presidente de Del Nero na Federação Paulista de Futebol e depois na CBF, além de seu sócio no escritório particular.
Ricardo Teixeira é amicíssimo de Aécio Neves (PSDB) e Renan Calheiros (PMDB).
J. Hawila, o empresário que comandava a venda de campeonatos e de patrocínios, é umbilicalmente ligado às Organizações Globo. E não apenas pela amizade íntima com Marcelo Campos Pinto, diretor da Globo responsável pela compra de direitos de transmissão de campeonatos.
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Além de garantir à Globo o virtual monopólio na transmissão dos campeonatos, Hawila tornou-se sócio de um dos herdeiros do grupo,  adquirindo com ele retransmissoras da Globo em todo o interior paulista, o jornal Diário de S. Paulo, além de ter-se tornado produtor de vários programas da rede.
Não é o único envolvimento de grupos de mídia com a contravenção.
A audiência da Globo deu-se em cima de três pilares: novelas, futebol e carnaval.
Em dois deles - carnaval e futebol - em sociedade com a contravenção do jogo de bicho e dos esquemas bilionários da CBF e da Fifa. De seu lado, a Editora Abril mete-se em negócios nebulosos com a organização criminosa de Carlinhos Cachoeira. Apesar da abundäncia de provas colhidas por uma CPI, não motivou uma representação sequer ao MPF.
Ambas foram poupadas pelos órgãos de investigação, graças às parcerias firmadas com eles .
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É nesse ambiente protegido que floresceram os contraventores de primeira classe, protegidos da ação do Ministério Público Federal e da Polícia, ao largo do alcance da mão da Justiça e do Congresso.
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Repete-se, no futebol, as mesmas práticas generalizadas envolvendo os principais partidos políticos - PT, PSDB e PMDB - e os principais centros de poder do país.
Resta esperar os desdobramentos desse jogo, que será o maior desafio para comprovar a independência (ou não) do MPF e da Polícia Federal em relação a seus parceiros preferenciais.
COMENTÁRIO-RESPOSTA
"Troféu da vergonha para a PF"

Enviado por Delegado Iegas  - Ref. ao post CBF e a cara do Brasil
Da Federação Nacional dos Policiais Federais:
E a FENAPEF responde...
Após a prisão de José Maria Marin, ex-Presidente da Confederação Brasileira de Futebol, pelo FBI norte-americano e polícia da Suiça, o Brasil voltou a questionar a falta de capacidade, eficiência  ou mesmo a isenção da sua estrutura de investigação criminal nos casos envolvendo corrupção nas entidades que cuidam do futebol nacional.
É fato que nem a Polícia Federal nem a CPI apelidada de “CPI da Nike” resultaram em prisão ou condenação de pessoas ligadas ao futebol brasileiro, em que pesem as graves denúncias veiculadas por jogadores, imprensa e diversos profissionais do ramo.
Mas por que a Polícia Federal norte-americana chegou a essas prisões e nós, no Brasil, não?
Em vários sites de jornais de grande circulação, matérias veiculadas à época das investigações pátrias retornaram às manchetes e, de certa forma, ajudaram – e muito – a desvendar a incrível inoperância do modelo de investigação brasileiro e o envolvimento direto entre a CBF e aqueles que, em tese, seriam os responsáveis pelas investigações.
“Em 15 anos, a Polícia Federal, no Rio, abriu 13 inquéritos contra a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e o seu ex-presidente Ricardo  Teixeira. Nenhum deles obteve resultado até hoje.”
Neste período, segue a reportagem, “a CBF patrocinou congressos, viagens, e até cedeu a Granja Comary , centro de treinamento da seleção brasileira, para um torneio de futebol de delegados .”
São fatos graves os que foram denunciados, inclusive ligando Ricardo Teixeira à associação dos delegados de Polícia Federal, quando a CBF teria doado R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) para um congresso realizado em Fortaleza, no ano de 2009. (Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2015/05/1635188-inqueritos-da-policia-federal-sobre-cbf-e-teixeira-nao-deram-em-nada.shtml)
Não obstante os graves fatos denunciados, que ensejam os reais motivos das investigações contra a CBF no Brasil não terem decolado, ainda há muito a ser esclarecido à sociedade.
O modelo de investigação criminal no Brasil é de um retrocesso incalculável. A abertura de 13 (treze) inquéritos policiais por delegados de Polícia Federal não cria uma relação diretamente proporcional com o deslinde de crimes cometidos e nem com a condenação dos eventuais investigados.
As investigações deveriam seguir um ritmo célere e coordenado, com intuito exclusivo de se chegar à verdade dos fatos. E por que isso não acontece no Brasil?
Enquanto o poder de formatação e encaminhamento formal das investigações ficar na mão de servidores burocratas, que priorizam oitivas e o questionável indiciamento, ao invés de análise documental e de evidências mais profunda, utilizando do conhecimento multidisciplinar dos seus policiais, com imediato encaminhamento ao Ministério Público para a elaboração da denúncia, as investigações no Brasil nunca terão números de eficiência satisfatórios.
Burocracia, prazos, vai-e-vem constante de inquéritos policiais entre a Justiça e a Polícia, passando novamente pelo Ministério Público, tudo isso revela a saga indigesta da fina-flor da inoperância e do gasto público desnecessário,  algo que em países como os Estados Unidos não prosperaria jamais. No caso da CBF, investigar e prender criminosos de alto padrão demonstrou ser algo mais simples, mais rápido, mais eficiente e, principalmente, sem qualquer possiblidade de criação de vínculos entre os que deveriam investigar e os investigados.
Imoral e inconcebível o Brasil ainda utilizar um modelo de investigação que possibilite a vinculação entre o potencial investigador e o investigado, a ponto de este vir a ser palestrante em um congresso privado daquele, e de haver uma troca de homenagens e gentilezas como selo do entrelace formado.
A Fenapef fez denúncias do caso à época e publicou as seguintes matérias:
PARA NÃO ESQUECER: Troféu da vergonha para os policiais federaishttp://www.fenapef.org.br/fenapef/noticia/index/25101
Investigados patrocinam encontro da Polícia Federalhttp://www.fenapef.org.br/fenapef/noticia/index/25126
A sociedade brasileira não pode assistir pacificamente à degradação do respeito ao trabalho da Polícia Federal e especialmente os policiais federais terão que trilhar novos caminhos em busca de um modelo que não propicie novamente os mesmos erros durante as investigações, seja por omissão, seja por pura ineficiência, sob pena de ter seu nome manchado por elos políticos reprováveis.
A Federação Nacional dos Policiais Federais irá apoiar a CPI que está sendo criada e não medirá esforços para que fiquem esclarecidos os motivos dos insucessos das investigações que foram feitas através de inquéritos policiais no Brasil, pela Polícia Federal.
A Diretoria da Fenapef também abrirá agenda junto à Corregedoria da Polícia Federal, ao Ministério da Justiça para que o caso tenha a devida apuração. Um pedido de abertura de CPI específica para apurar a atuação política da associação dos delegados no Congresso Nacional já havia sido aprovado pelo Conselho Nacional de Representantes e deverá ter desdobramentos nos próximos dias.
A sociedade brasileira precisa de explicações e um dos órgãos de maior credibilidade do País - a Polícia Federal - deve dar sua pronta e suficiente resposta.

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