PEC da bengala não melhora em nada o Judiciário
Breno Tardelli (*)

Infelizmente, temos um Congresso
Adolescente e Impulsivo
Quando um Congresso incompetente, cujo único orgulho consiste em impor derrotas à Presidência, se propõe a retirar a possibilidade de ela indicar outros ministros para o STF, sem olhar o contexto e outras consequências da decisão, temos como resultado a PEC da Bengala.
Para quem não está inteirado ao assunto, explico em síntese: o Congresso elevou a idade da aposentadoria para 75 anos para retirar a possibilidade de Dilma Rousseff indicar outros 5 ministros para o Supremo. A elevação da idade valeria, apenas como o “teste”, para a cúpula do Judiciário, composta por todos os Tribunais de Justiça, Regionais Federais, Regionais do Trabalho, STJ, TST, STM, além da Suprema Corte. A medida só aguarda promulgação.
O grande problema dessa ação do Congresso de enfrentamento à Presidência é justamente não pensar no aspecto geral. Na verdade, o legislativo apenas foi sádico, impulsivo e impôs uma derrota a Dilma de forma adolescente. Pensaram apenas no Supremo. Atingiram todo o Judiciário.
Ainda que fosse apenas sobre o Supremo, as razões explícitas e implícitas chegam a ser bizarras, quando não cômicas. Impor a derrota por medo de um “Tribunal Bolivariano”, como já dito por Gilmar Mendes, é ignorar o caso do mensalão, onde a Corte – de indicação majoritariamente petista – condenou a cúpula do partido. Por outro lado, o argumento da expectativa de vida não é motivo único para balizar a idade da aposentadoria, ao passo que outros critérios são considerados, como renovação, disposição e até mesmo qualidade de vida.
A Bengala afasta a renovação
Esse artigo partiu de uma premissa básica. O Judiciário é um lugar extremamente reacionário, parecido com a composição da Câmara, curiosamente. O porquê podemos discutir em outro texto.
Por essa razão, não é o STF a maior preocupação. São as consequências que assustam. Aumentar em cinco anos a permanência de juízes significa, em primeiro lugar, conservar a composição dos Tribunais. Com isso, impede-se o arejamento das instituições e renovação dos profissionais não só no STF, como no Brasil inteiro.
Feito isso, embora seja realmente improvável um arejamento das instituições, pela forma institucionalizada de se pensar, conservar a cúpula torna a mudança impossível. Além disso, se formos pensar em quem foi aprovado(a) recentemente em concurso, ou no próprio concurseiro(a), a PEC da Bengala trava sua promoção e prejudica o desempenho da carreira, uma vez que ninguém sai para outra pessoa entrar no lugar. O efeito é cascata: se ninguém sai, ninguém se promove e ninguém entra.
O teste está mais para degustação mesmo
Por último, não deixa de ser irônico o argumento de que só valerá para o Judiciário, por se tratar de “teste”. Praticamente, o que daria errado para que o “teste” seja engavetado? O Judiciário se tornar/continuar extremamente conservador? Na atual composição do legislativo, trata-se de uma ótima notícia.
(*) Brenno Tardelli é diretor de Redação no Justificando.
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