Um pouco de liberdade de imprensa
faz bem! Caco Barcellos e os 2 anos
do Mais Médicos
Caco Barcellos é um dos raros repórteres que não têm horror à reportagem nem aos personagens dela, quando são gente pobre.
Ah! Porque tem gente assim, e como tem, que só se interessa por eles quando podem render algo “mundo cão”. Cinegrafista esperto já “fecha” a cãmara nos olhos do infeliz quando o texto do repórter força a memória da desgraça, da morte, da perda, do sofrimento. Não pode “perder a lágrima”.
Caco tem na bagagem algo que poucos da era do “jornalista modelo-manequim” tem, apesar de ser tido como um tipo meio galã. Foi menino pobre, na periferia de Porto Alegre, só começou a estudar aos nove anos, quando Brizola abriu ali, no São José, uma escola de tempo integral. Dirigiu táxi por muitos anos para pagar a faculdade e, talvez, aí tenha desenvolvido a capacidade de ouvir as pessoas.
Faz jornalismo com pessoas, não propaganda e exploração política, contra ou a favor. Aqui não se tem nenhum constrangimento em elogiar um programa da Globo, quando faz o que deveria fazer, sempre.
Hoje, no comando da equipe de jornalistas do Profissão Repórter, Caco abre seu espaço para retratos que a imprensa brasileira não se acostuma a fazer, salvo na desgraça: os do povo brasileiro.
Ontem seu programa foi sobre o “Mais Médicos”, dois anos quase depois de implantado. Com os problemas, as carências, as dificuldades, os erros, as fugas de cubanos (sobre as quais bastam os números para julgar: 40 em 11.400 profissionais) mas, sobretudo, as pessoas: médicos, pacientes e os que nem médico tiveram.
Como o “seu” Raimundo Xavier, morador de uma palafita próxima a Cametá, no Pará, que perguntado sobre o que diria a jovens médicos que se dispusessem a ir para lá:
- Dotô, venha pra cá, que nós tá aqui. Nós lhe damos atenção, nós lhe agrada aqui, tudo, tudo de bom que nós pudé lhe dá, nós damos para o senhor.
Quem tem nada se oferece para dar tudo, que lição aos egoístas!
Leia abaixo a transcrição da reportagem, que pode ser vista clicando no 'link' http://s03.video.glbimg.com/x360/4077278.jpg
O 'Profissão Repórter' esteve em cinco estados para saber como estão trabalhando e vivendo os primeiros médicos estrangeiros que aderiram aos programa Mais Médicos. Acompanhamos a recepção em 2013 e o dia a dia de trabalho um ano e meio depois.
Bahia
Em Serra do Ramalho, na Bahia, a prefeitura não economizou na propaganda quando os três primeiros médicos chegaram. Hoje são oito.
Os médicos do programa recebem uma bolsa de R$ 10 mil. No caso dos cubanos, o dinheiro é pago ao governo de Cuba, que repassa R$ 3 mil aos profissionais de saúde. A cidade de Serra do Ramalho nunca havia tido um médico residente, os cubanos foram os primeiros.
Em 2012, só 38% do município tinha cobertura do programa Saúde da Família. Hoje os médicos atendem 98% da população, mas alguns problemas continuam. A falta de medicamentos prejudica aqueles que precisam de tratamento.
Desde que os médicos chegaram à Serra do Ramalho, a mortalidade infantil caiu 56%. Com as visitas domiciliares, eles avaliam os fatores de risco e orientam melhor os pacientes, até mesmo sobre amamentação.
Amazonas
Em Manaus, o médico espanhol chegado em 2013 está totalmente integrado à comunidade. No espaço cedido por uma igreja, ele dá palestras para as mulheres sobre câncer de mama. Mais de 800 famílias ocuparam um grande terreno ao lado da UBS onde o espanhol atende. Em pouco mais de um ano, o número de pacientes dobrou. Oitenta crianças nasceram desde que o médico chegou à comunidade.
Pará
O programa Mais Médicos já chegou a 73% dos municípios. Hoje a cidade de Cametá, com 120 mil habitantes, vai receber a primeira médica brasileira. O município fica a mais de seis horas de viagem por terra e água saindo de Belém.
A médica Taísa Neville foi criada em Belém e estudou medicina na universidade estadual do Pará. “A expectativa é grande. Estou bastante ansiosa assim de estar conhecendo minha nova família. Porque a comunidade vai ser a minha nova família a partir de agora”. No primeiro dia de trabalho, Taísa atendeu 20 pacientes.
Este ano, os brasileiros vão ocupar 85% das vagas do Mais Médicos. Em 2013, eram 10%. Uma novidade do programa é oferecer como benefício um bônus de 10% na prova que dá acesso à residência médica. Isso atraiu mais profissionais.
O Pará é o estado que enfrenta mais dificuldades para preencher as vagas do programa Mais Médicos. O município de Limoeiro do Ajuru ainda não conseguiu nenhum dos quatro médicos que queria contratar. Parte dos 20 mil moradores da cidade moram em ilhas isoladas.
Rio Grande do Sul
Em 2013, Eurizandra deixou a família em Lisboa para participar do programa Mais Médicos no Brasil. Há um ano e meio morando no interior do Rio Grande do Sul, quase na fronteira com o Uruguai, Eurizandra só encontrou a família duas vezes. “Muita saudade, mas eu tive oportunidade de viajar e eles também vieram aqui. Não gostaram e voltaram”. O contrato da médica é de três anos.
A cidade tem 11 médicos estrangeiros. O posto de saúde do bairro recebeu três médicos de fora. “Eles são bons médicos, atendem muito bem. Nos encaminham para algum especialista, se precisa”, diz a aposentada Lamir Maragalione.
A médica Eurizandra atende 20 pacientes por dia e não tem pressa. “Tem que conversar com eles, para eles se sentirem mais á vontade. Porque se não sentir a vontade, podem não contar algumas coisas e dificultar o diagnóstico”.
São Paulo
Agudos, no interior de São Paulo, foi a primeira cidade do Brasil a aprovar um auxílio para os filhos dos médicos cubanos. O município tem sete médicos que vieram de Cuba. Hoje, três moram com os filhos.
“A ideia de criar esse incentivo por filho ao médico oriundo do programa, de R$ 550 por mês por filho, foi para que o médico se sentisse mais motivado, mais estimulado. Houve um problema para eles, vindo do governo de Cuba. Tem havido pressão sobre os médicos, que estão acuados, assustados e receosos em receber esse auxílio. Pressão para que eles enviem os filhos de volta ao país”, conta Éwerton Octaviani, prefeito de Agudos.
Pelo contrato assinado com o governo cubano, os médicos não podem levar a família para morar com eles nem aceitar o auxílio dado pela prefeitura de Agudos.
Pelo contrato assinado com o governo cubano, os médicos não podem levar a família para morar com eles nem aceitar o auxílio dado pela prefeitura de Agudos.
Na manhã desta terça-feira, o Ministério da Saúde foi informado pela prefeitura de Jandira, na Grande São Paulo, que a médica cubana Dianelis Parrada não está mais trabalhando. Segundo seu supervisor, o que motivou a partida da médica para os Estados Unidos foi a pressão do governo de Cuba para que seu filho voltasse ao país.
Quarenta médicos cubanos desistiram do programa desde 2013. Atualmente, 11.400 profissionais cubanos estão trabalhando no Brasil.
O Tribunal de Contas da União fez uma auditoria para avaliar o funcionamento do programa Mais Médicos e visitou 1.176 municípios. Em 161 cidades houve redução de médicos brasileiros após a chegada dos estrangeiros.
A cidade de Santa Bárbara do Oeste, no interior de São Paulo, perdeu 19 médicos em um ano, mesmo tendo recebido sete profissionais cubanos pelo Mais Médicos. A prefeitura do município diz que o atendimento particular é mais atrativo para os profissionais e, por isso, a rotatividade é grande. Nenhum dos médicos foi demitido do serviço público.
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