O fim do lulismo conciliador,
e a sequência do pacto do
'moderno' contra o 'arcaico'
Articulado, inteligente como João Paulo Stédile, o líder dos Sem Terra, o filósofo Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) concedeu uma longa entrevista ao jornal “Valor Econômico”.
Nele, decreta o fim do 'lulismo' - por razões diversas das que aventei aqui no Blog.
Para ele, o 'lulismo' foi a política da conciliação, um pacto - favorecido pela fase econômica - que permitiu vários avanços sociais, mas se esgotou por falta de reformas. E as reformas não ocorreram por receio do conflito.
Na mesma entrevista, Boulos enaltece a atuação do prefeito de São Paulo Fernando Haddad, especialmente na aprovação do Plano Diretor e na visão de futuro em relação à cidade.
E aí se entra no busílis da questão.
A aprovação do Plano Diretor não foi um conflito de classes: foi um pacto do moderno contra o arcaico. Para contornar interesses pontuais, predatórios, foram montadas alianças e estratégias, do MTST ao Secovi (Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo).
O Secovi entendeu a importância da regulação para a própria racionalidade dos empreendimentos, de sua adequação aos meios físicos da cidade e colaborou. A pressão do MTST foi valiosa na soma de esforços pela aprovação do plano.
Para impedir os projetos “submarinos” - que aparecem do nada, sem padrinhos ostensivos - obrigou-se à publicação de todos os projetos e à explicitação dos lobbies na Câmara de Vereadores.
O que o episódio ensina?
O país chegou a um grau de desenvolvimento tal que não comporta mais a luta de classes figadal, na qual os interesses de uma classe se sobrepõem a fórceps sobre os da outra.
Há conflitos e interesses, sim, ainda bem que explicitados. É com a explicitação dos conflitos que se dá a mediação(Do AMgóes - Entendo que os avanços socioeconômicos, consolidados por Lula e sequenciados por Dilma, foram decisivos na afirmação de nossas potencialidades e autoestima, determinantes, em particular, de relevante protagonismo na agenda global, mas a tibieza, diante do previsível acirramento de conflitos intramuros, face a melindres por interesses inevitavelmente 'contrariáveis', emparedou a perspectiva de reformas estruturais reclamadas faz meio século no país).
O país dispõe hoje em dia de lideranças lúcidas em todos os extratos sociais. Mas há uma exacerbação insuflada pela mídia que contempla apenas os dinossauros radicais. Eles ganham visibilidade escarafunchando o esgoto - com o apoio de políticos como José Serra e Aloyzio Nunes - mas sem ter expressão eleitoral.
Em que pese o enorme conservadorismo que campeia em São Paulo, há uma elite empresarial que em nada lembra a ferocidade do PSDB nacional dominado pelos paulistas. Muitos desses grupos patrocinam ONGs com participação efetiva nos conselhos e fóruns que discutem políticas públicas.
A atual exacerbação dos ânimos não é fruto de contemporização, mas de falta de mediação, de diálogo, de pactuação.
O governo Dilma Rousseff indispôs-se com empresários, trabalhadores, movimentos sociais, sociedade civil organizada, por dois motivos: falta de diálogo e falta de projeto. Descuidou-se dos serviços públicos, permitindo a perda de qualidade na telefonia e não cuidando do aprimoramento de programas existentes; manteve o câmbio apreciado, valendo-se das isenções fiscais como gambiarra mas matando qualquer política industrial. E assim por diante.
A reconstrução de seu governo dependeria, antes de mais nada, de um plano estratégico bem estudado, que lhe permita entender as correlações econômicas e sociais e os temas entrais em torno dos quais conseguisse juntar o país moderno para superar as resistências do país atrasado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário