segunda-feira, 15 de dezembro de 2014


O crime que 

compensa…       

Fernando Brito                            
 
prc
'Edificante' narrativa para a moralização do país feita hoje em O Globo, sobre o destino de Paulo Roberto Costa, o grande operador da corrupção na Petrobras:
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa deverá ser condenado a, no máximo, 20 anos de prisão pelo conjunto dos crimes que vão de lavagem de dinheiro da administração pública, peculato, formação de organização criminosa a obstrução de investigação. (Mas) Costa não ficará na cadeia: cumprirá no máximo dois anos da pena que lhe for imposta em regime semiaberto, não será processado por todos os fatos novos que vier a denunciar e, se mantiver o compromisso de colaborar com a justiça e não cometer crime relativos ao escândalo poderá pedir a extinção da pena.
” os processos contra o ex-diretor da estatal serão trancados assim que as penas somarem 20 anos de reclusão, daí o compromisso de que, ao final do processo, ele cumpriria apenas dois anos em regime semiaberto”.
” Mulher, duas filhas e dois genros (do)ex-diretor receberam e pagaram propina, fizeram remessas ao exterior e ainda são acusados por tentar impedir a investigação da organização criminosa, ao serem flagrados retirando malas de documentos de seus escritórios durante a operação da Polícia Federal”. Um dos genros “operava com contratos (…) que ficavam fora do interesse do PT, PP e PMDB por serem considerados de “menor valor”.
Todos, claro, faziam isso “enojados”.
Depois que cumprir a prisão domiciliar de um ano Costa poderá inclusive viajar para fora do Brasil, desde que autorizado pela Justiça. O acordo de Costa não é válido para toda a família. Cada integrante negociou o seu. Mas se Costa não cumprir o compromisso, os outros cinco acordos deixarão de vigorar e todos os processos são reativados. A quebra de acordo pela mulher, filhas e genros, porém, não terá força de romper o acerto do ex-diretor.
Convenhamos, não chega a ser um mau negócio, não é?
Porque se um “auxiliar” do esquema, Pedro Barusco, teria amealhado US$ 100 milhões – segundo ele em propinas pagas espontaneamente – os US$ 25 milhões de Paulo Roberto Costa parecem muito, muito pouco.
Afinal, num esquema que teria desviado bilhões, o chefe de todo o esquema ficaria com “tão pouco”?
Se a corrupção na Petrobras, a esta altura, parece ser algo já fora de questão, confirmada até pelas sindicâncias internas da companhia, fica cada vez mais evidente que, mais importante que apurar e punir os responsáveis por ela continua sendo tentar fruir das consequências políticas.
O “pacotão” de benefícios de Costa ultrapassa todas as fronteiras do equilíbrio, do razoável.
É quase o reconhecimento de que ele roubou “enojado” durante anos, com o auxílio da família que, “com grande repugnância”, movimentava fortunas.
Pior, é uma chantagem sobre os tribunais que devem (devem?) aprovar este acordo, sob pena de invalidar tudo de informação que ele tenha produzido.
Paulo Roberto Costa está comprando seu perdão, o de sua família e, quem sabe, a “lavagem” do que tenha sobrado dos desvios que cometeu, guardado em partes ou com pessoas que “não entraram na roda”.
Youssef, que já havia escapado de penas numa falcatrua semelhante – acordo que, aliás, rompeu – parece que vai pelo mesmo caminho.
Parece que, no Brasil, o crime passou a compensar. Quando não fica oculto, basta “dedurar” as pessoas certas (dedurar político de direita não conta), é perdoado.
Ou, quem sabe, premiado.

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