segunda-feira, 9 de março de 2015

Vai uma luta de classes aí, Madame?

Paulo Tadeu          Luis Nassif Online imagem de Odonir Oliveira

Resultado de imagem para Charges do panelaço dos coxinhas em SÃO. PauloQuando sairam da linha de produção, sofisticadíssimas panelas Muaviel e Staub, francesas, de primeira linha da Tramontina e a espanholinha de marca Gracima, não imaginavam que o destino lhes reservava a insólita aventura de um panelaço nos jardins paulistanos e outros rincões pretensamente nobres.
Afinal de contas, o panelaço sempre foi coisa de pobre, de gente sem comida, sem recursos, sem trabalho, teto, terra e esperança. Fiquei imaginando uma madame empunhando um porcionador de arroz de aço inox “caréééééśimo” batendo com toda fúria em uma panela Le Creseut de 34 centímetros, que custa quase dois mil reais ou setecentos dólares na linguagem mais afinada com os trejeitos aristocráticos da manifestante de apartamento.
Piscar de luzes nos requintados condomínios – sem água, mas requintados, sem água, mas limpinhos, buzinaços de BMW e Ferraris, e uma ou outra vuvuzela de um novo rico que ainda não sabe se comportar, deram a forma do inconformismo chique contra a palavra da presidenta em rede nacional.
Aqui do meu cantinho, fiquei imaginando mãos de seda que nunca empunharam uma espumadeira, brandir uma Utility Tramontina de aço, avermelhando suas delicadas articulações metacarpofalângicas, sacrifício supremo para quem as vêzes se esquece de movimentá-las para acarinhar um filho devidamente destinado à babá de uniforme.
No Brasil de hoje parece que ser contra não é suficiente, manifestar-se legitimamente é pouco, ter preferências partidárias já não basta. É preciso deixar o ódio de classe aflorar pelos perfumados salões dos que acham que avião, faculdade, carro, férias, restaurantes, boas roupas, filhos bem nutridos, emprego, bons salários devem ser coisa para poucos.
As panelas inglesas Gordon Ramsay ou as alemãs Silit não ressoaram pela igualdade, pela moral e bons constumes, pela ética, pelo fim da miséria, pela soberania do país. Cada batida parecia ecoar – o Brasil é para poucos, o Brasil deve ser apenas daqueles que acham um absurdo essa dificuldade de achar empregada doméstica, mais doméstica que empregada. Ainda mais com essa mania de direitos trabalhistas para quem tem “o privilégio de conviver com a gente”.
Segundo Marx, “a história de todas as sociedades que existiram até hoje é a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, resumindo, opressor e oprimido, estiveram em constante oposição uns contra os outros; conduziram uma luta que por muitas vezes terminou na transformação revolucionária da sociedade inteira, ou então com a ruína das classes em luta”.
As panelas fartas dos bairros chiques afinal se deram conta do que dizia Marx.
·         Vai uma luta de classes aí, Madame?


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