quinta-feira, 19 de março de 2015

A  perplexidade

e a batalha pela hegemonia

Gilson Caroni Filho  Luis Nassif Online imagem de Freitas

"O governo está inteiramente aberto ao diálogo e assume como postura central o diálogo com todas as forças sociais. E pouco importa se são forças sociais que apoiam o governo ou são forças sociais contra o governo." (Ministro José Eduardo Cardozo). Depois de ver a bancada petista aplaudir o ajuste fiscal de Joaquim Levy, gostaria de saber se ouvirá o que pedem as forças sociais que apoiam o governo: defesa da Petrobras, manutenção da Caixa Econômica Federal 100% pública, não à elevação da taxa de juros e às medidas de ajuste de caráter regressivo e recessivo, e o fim do fator previdenciário no cálculo para aposentadoria, sem elevação da idade
Este primeiro parágrafo pode levar alguns petistas a imaginar que ignoro as mediações políticas e a correlação de forças, enveredando por uma lógica binária voluntarista, simplória e inconsequente.
Há certa perplexidade de alguns militantes do PT com o novo cenário político. O que estamos presenciando é a primeira ofensiva articulada e organizada da direita desde 1964. Tendo como intelectual orgânico o oligopólio midiático, não podemos subestimá-la com adjetivações fáceis do tipo “coxinha” e ignorar a organicidade do movimento dos nossos inimigos de classe.
O primeiro passo é reconhecer que se trata de uma batalha pela hegemonia, na acepção precisa de Gramsci, e que estamos perdendo feio. São inegáveis os avanços que conseguimos no que diz respeito a programas de inclusão, bem como é indiscutível que não logramos fazer nenhuma reforma estrutural. Muitos dirão que o impedimento é o caráter conservador do Congresso, o que não deixa de ser parcialmente correto, mas a questão central é que deixamos em segundo plano os novos movimentos sociais. Não criamos produção de sentido para nenhum deles. Além da fadiga natural de 12 anos de governo, não temos um discurso que seduza a juventude e outros setores da sociedade.
Não vejo outra saída que não seja o confronto de ideias, a retomada de algumas bandeiras que deixamos pelo caminho, abandonando o tom conciliatório e desfigurante da “governabilidade”, das alianças sem qualquer balizamento programático. Não nos esqueçamos de que foi com uma agenda de esquerda que vencemos uma eleição dada por muitos como perdida. E é com ela que devemos enfrentar o momento atual.
A outra opção é esperar pela conversão ética de parcela majoritária do PMDB, liderada por Eduardo Cunha. Acreditar que a mídia, já sabendo que sofrerá corte de verbas governamentais, se curvará e pedirá desculpas pelo posicionamento claramente golpista que assumiu desde a posse de Lula. Ou que o Congresso precisará de um fato jurídico comprovado para embarcar na aventura do impeachment, ignorando a natureza política daquela casa e o caráter partidarizado do STF. E, claro, orar por uma intervenção divina.
Os que viram as manifestações de sexta, 13/08, deveriam atentar para as palavras de ordem gritadas na Avenida Paulista. O mais importante de tudo foi o recado das centrais e dos movimentos sociais à presidente Dilma: ou governa com a agenda com a qual se elegeu ou ficará refém do capital e das forças mais retrógradas. Irresponsabilidade política tem consequências de longo prazo.
Já entregamos muitos anéis para não perder os dedos. Se quisermos preservá-los precisamos dar as mãos uns aos outros e partir para a luta.

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