Fim do Brasil? Operários do polo
industrial de Goiânia (PE)
acham que não
Enquanto líderes da oposição vendem a 'desindustrialização' do País e alguns catastrofistas do mercado financeiro falam até em 'fim do Brasil', a Fiat apresentou, em Goiana (PE), o Jeep 'Renegade', que será produzido na sua fábrica pernambucana; também nesta terça, o Banco Central anunciou o volume de investimentos diretos recebidos pelo País em fevereiro: US$ 2,8 bilhões; alta do dólar favorece uma política de substituição de importações que fará com que bens de maior valor agregado, em vez de importados, sejam produzidos localmente; durante muitos anos, Goiana foi conhecida apenas por um lendário restaurante onde se vendia um famoso caranguejo; a partir de agora, é o mais novo pólo industrial do País; reportagem especial de Paulo Emílio, editor do Pernambuco 247.
24 DE MARÇO DE 2015 ÀS 14:34
Paulo Emílio,
Pernambuco 247 - Você, certamente, já ouviu falar na suposta
"desindustrialização" do Brasil. É um dos motes mais usados por
lideranças da oposição, a começar pelo senador José Serra (PSDB-SP), que
utiliza essa expressão dia sim, dia não. No mercado financeiro, correntes mais
catastrofistas, como da consultoria Empiricus, vendem até o "fim do
Brasil", como se o País estivesse prestes a implodir.
Aos que só enxergam
problemas, conviria conhecer a cidade pernambucana de Goiana, na região
metropolitana do Recife, onde, ontem, a Fiat apresentou o jipe Renegade, que
será produzido no local. Até poucos anos atrás, Goiana era um município
visto como periférico, tipicamente uma cidade dormitório, onde a base da
economia estava ligada ao setor sucroalcooleiro. Até então, a pequena cidade
com cerca de 80 mil habitantes tinha como seu destino mais famoso o restaurante
Buraco da Gia, especializado em frutos do mar e onde caranguejos adestrados
servem bebida aos clientes.
Nos últimos dois
anos, porém, a paisagem local mudou radicalmente. A Fiat Chrysler Automobiles
(FCA) escolheu a cidade para sediar seu mais moderno parque fabril em nível
mundial, um investimento de cerca de R$ 7 bilhões. É dali, na Zona da Mata
Norte pernambucana, que a montadora aposta em seu mais novo lançamento, o Jeep
Renegade, para conquistar o mercado.
E enquanto a
montadora atua nesta direção, trabalhadores, municípios e Estado comemoram o
avanço na economia, apesar dos pregoeiros do catastrofismo afirmarem que o país
caminha para o buraco.
A fábrica da Jeep,
que deverá ser inaugurada oficialmente em abril, terá capacidade para produzir
250 mil veículos anualmente. Ao todo, deverão ser gerados cerca de 8 mil
empregos diretos. A estimativa do governo do estado aponta que, em 2020, o PIB
pernambucano terá uma participação de 6,5% decorrente do pólo automotivo de
Goiana.
Considerando os
sistemistas, como são chamados as empresas que fornecem materiais e
equipamentos necessários à produção e que costumam acompanhar este tipo de
investimento, a estimativa é que sejam gerados 47,5 mil novos postos de
trabalho ao longo de toda a cadeia produtiva, considerando a implantação e a
operação da unidade.
Essa geração de
empregos terá um impacto significativo na massa salarial. Em 2010, este volume
era de R$ 347 milhões e deverá saltar para R$ 2,3 bilhões em 2020, considerando
apenas os três municípios mais impactados pelo projeto: Goiana, Igarassu e
Itapissuma, segundo estimativas da consultoria Ceplan.
Nos outros sete
municípios do entorno, a massa salarial cresce de R$ 452 milhões para R$ 663
milhões, num acréscimo de R$ 211 milhões. Levando-se em consideração todo o
Estado de Pernambuco, o incremento na massa salarial deverá crescer até 10,2%.
Os investimentos no
polo automotivo, contudo, poderão ser maiores quando levados em consideração a
projeção dos impactos econômicos feita a partir do modelo de insumo-produto,
com base nos investimentos e do valor da produção.
A previsão é que,
até 2018, sejam investidos cerca de R$ 4,4 bilhões em edificações e obras e
outros R$ 5,2 bilhões em máquinas e equipamentos, somando uma injeção de R$ 9,6
bilhões no polo automotivo como um todo.
Mas os
investimentos não estão restritos somente a Pernambuco. A Jeep está investindo
cerca de R$ 250 milhões na ampliação da sua rede nacional de revendas. O número
de lojas da marca, que era de 45, passará para cerca de 120 unidades, gerando
emprego e renda em diversos estados do país.
Fator dólar
Até mesmo a alta do
dólar poderá beneficiar o nascente polo automotivo pernambucano. A razão para
isto está no fato da unidade industrial possuir uma estrutura de produção e
logística capaz de atender toda a América Latina, apesar de muitos componentes
e peças ainda serem importados. Além disso, o dólar mais caro encarece modelos
similares, produzidos fora do País.
Além disso, a base
pernambucana vai reduzir os custos logísticos que a montadora teria caso
optasse pela importação dos veículos ou até mesmo se eles fossem produzidos em
Betim (MG), onde a FCA já possui uma fábrica de veículos da marca Fiat.
A aposta da Fiat em
Pernambuco é mais um dos investimentos internacionais diretos no País, que
continuam em ritmo forte. Em fevereiro, o volume divulgado pelo Banco Central
foi de US$ 2,8 bilhões.
Para quem só
enxerga problemas, visitar a pena cidade de Goiana valeria bem mais do que
comer um prato de frutos do mar. Renderia um pouco de otimismo e esperança
quanto ao futuro.
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