sexta-feira, 13 de março de 2015

Diferenças   claras  entre esta sexta 13 e o domingo 15 de março                          

Fernanda Otero e Rodrigo Frateschi (*) 

Manifestação reforma política
Muita expectativa e pouca comunicação é o que vemos hoje sobre as manifestações desta sexta-feira(13) 13 e do domingo(5). Sabe-se, no entanto, que há associações indutivas acerca desses eventos.
Sabe-se que as manifestações desta sexta contam com a simpatia da militância do PT, do ex-presidente Lula e que as do dia 15 contam com o apoio do PSDB e da imprensa/empresa.
Sabe-se também, que as manifestações desta sexta-feira são contra o impeachment da Presidenta, mas que as do domingo clamam pelo impeachment como solução  de todos os problemas do país.
Mas cabe-nos fazer algumas ponderações, sob pena de cairmos em generalismo sem a identificação dos atores envolvidos e as responsabilidades, bem como  dificultarmos a solidez de um posicionamento político mais responsável e produtivo.
Em primeiro lugar, não se pode dizer que as manifestações do dia 13 de março são favoráveis ao governo. Embora claramente contra o impeachment e em defesa da PETROBRAS, essas manifestações contam ainda com críticas fundamentadas ao tão falado ajuste fiscal.
A UNE, protagonista importantíssima das manifestações desta sexta-13, conta com críticas também às novas regras do FIES, que têm dificultado a matrícula dos estudantes e a consequente continuidade dos cursos universitários.
São manifestações  pela defesa  das riquezas nacionais e dos princípios e direitos sociais dos brasileiros, com sólida legitimidade social; com base real de reivindicação e com pauta transparente, pública, legítima e defensável sob argumentos legítimos, sem vinculação ao governo ou ao PT, mas simpática aos princípios formadores do partido.
Analisemos então as manifestações do domingo-15 15, pelo impeachment da Presidenta, e c hegaremos a outras ponderações.
Em primeiro lugar, erra quem do PT identifica que se trata de manifestação burguesa ou outras blasfêmias. Essa avaliação em nada ajuda a entender e a se posicionar politicamente.
As manifestações do próximo domingo não se baseiam em reivindicações sociais, não há pontualidade, não há base definida e organizada. Defende apenas e tão somente o impeachment. Não faz análise geopolítica acerca da solidez democrática, das consequências e interesses estrangeiros envolvidos na PETROBRAS, nem da postura e isenção do comportamento das instituições.
É contra a corrupção que os manifestantes do dia 15 (que não sejam os mal-intencionados) enxergam no governo, em especial, por ter sido eleito sob a bandeira do PT, poderão sair à rua. Essa associação é consequência de uma política de comunicação massacrante promovida pela mídia reacionária. Por isso, não devemos aceitar o ódio nem sentir raiva das pessoas que foram levadas a acreditar que o PT é um partido corrupto apesar de ser o que mais combateu a corrupção em seus governos.
Isso vale para lembrar que da massa que se forma nas manifestações, podemos extrair uma grande maioria com honestidade de propósitos, seja no dia 13, seja no dia 15.
Essa constatação nos impede de pronto de adjetivá-los (os do dia 15) de burgueses, coxinhas ou outra “qualidade” que tem buscado caracterizar uma dicotomia de classes nas duas manifestações e que tem por resultado a ofensa de muitos, sem identificar os obscuros manipuladores, merecedores desses e outros adjetivos piores.
O PSDB e a imprensa/empresa são os responsáveis pelas manifestações do dia 15. Eles têm intenções inconfessáveis por trás dessa articulação já conhecida como o terceiro turno de quem não se conformou em ter perdido as eleições e se esconde no beco escuro das informações manipuladas.
Querem a entrega da PETROBRAS e da espinha dorsal da construção civil do país a governos e empresas estrangeiras e não precisamos provar essa afirmação, bastando ver os editoriais das organizações Globo, assinados inclusive por seus proprietários, bem como as declarações dos líderes do PSDB sempre nesse sentido.
Eles querem a chave do cofre e se utilizam de todo tipo de subterfúgio para isso, inclusive, de apontar incoerências com muitas das quais nós mesmos concordamos, de braços dados ao movimento do dia 13.
Não seria exagero dizer que a maioria, nos dois dias de movimento, tem em seus corações os mesmos cristalinos sentimentos pelo país, sendo demasiadamente triste a possibilidade de um confronto em que essas mesmas posições possam levar a querer dilacerar as vísceras do próximo, que se assemelhe a uma luta de classes que só aparece pela ocorrência de surtos fascistas de uma minoria racista sem educação e excludente das varandas gourmet; que aparecem de vez em quando nas redes sociais muito mais por uma verborragia chocante a todos, que causa mais repúdio do que a possibilidade de formar maiorias, aparecendo como os maiores protagonistas, contrariando a lógica de um país onde a maioria da população se identifica como de “esquerda” e votou contra eles. Então, identificar os motivos, os envolvidos, os interesses é passo anterior à paixão e ao ódio.
Nesta sexta-13 desfilam movimentos conhecidos dos brasileiros, tradicionais e historicamente pacíficos e democráticos. CUT, UNE, MST, MTST, CMP têm todos mais de meio século de organização, ao passo que os movimentos do domingo-15 quem são? Que confiança podem os brasileiros depositar nos Black Blocs, Anonymous, Vem Pra Rua, Revoltados Online  etc?
Quem são os 'domingueiros' na organização da sociedade brasileira? Na vida cotidiana do país? A que direitos constitucionais são ligados e legítimos defensores? Quais são brasileiros? Que responsabilidade eles têm?
O Brasil, como qualquer país, é formado de Constituição, Território e População, caso contrário não existiria como Estad. Dessa forma, quem chega a aventar a hipótese de separá-lo?
Vale lembrar que muitos desses que convocam o dia 15 têm saído às ruas justamente contra qualquer direito, favoráveis à ruptura da democracia.
Então, nessa miscelânea toda, o que devemos fazer? Como deve participar o PT e sua militância para servir ao país?
Como diz o velejador, “firme no leme e de olho na vela mestra”.
A militância do PT é formada por professores, advogados, médicos, estudantes, trabalhadores de chão de fábrica, sem terras e sem tetos, pequenos e grandes empresários e produtores que tem interesses e direitos no estrato da sociedade brasileira e que são legítimos em suas origens para defender uma ou outra questão.
Ou seja, a militância do PT hoje é formada por pessoas que acreditam numa forma inclusiva de organização da sociedade e de distribuição das ações governamentais.
O médico ligado ao PT é a favor do Mais Médicos e da inclusão social, da saúde pública e universal. Os estudantes ligados ao PT são favoráveis à manutenção do FIES, do PRONATEC e de outras medidas inclusivas. São ativistas com legítimo e originário interesse de participar de reivindicações sociais, levando e difundindo os princípios formadores do partido, absorvendo as questões sociais para dentro da estrutura partidária, para que todos estejam sintonizados com as necessidades da população.
Face à última eleição, que elegeu um Congresso mais conservador, os movimentos sociais serão os únicos e possíveis protagonistas a contrapor medidas estapafúrdias como a das passagens aéreas das esposas dos parlamentares e como força de pressão sobre o Parlamento e o Governo. Assim, a militância deverá andar lado a lado com os movimentos sociais.
Divulgar e valorizar os princípios formadores do PT, irmanar-se aos movimentos legítimos e não ceder ao ódio e ao preconceito e à análise curta, acreditamos, será o melhor caminho não só para defender o partido, mas também para mantê-lo atual, eficiente, legítimo e útil ao Brasil.
(*) Fernanda Otero é jornalista e militante do PT; Rodrigo Frateschi é advogado e militante do PT.

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