Vídeo sobre Belo Monte, com Leticia Sabatella, também foi fraudado para
apoiar Aécio em 2014
Kiko Nogueira
Nosso programador Tiago Mendes Tadeu é um mineiro esperto. Por isso, quando recebeu um vídeo no Whatsapp de um grupo de primos, ele desconfiou.
Lá estavam atores e atrizes da Globo conclamando a população para comparecer à manifestação do dia 15 de março a favor do impeachment.
O velho Ary Fontoura abria os discursos canastrões num cenário limpo, apenas com fundo branco.
Em seguida, entravam nomes como Marcos Palmeira, o comediante sem graça Bruno Mazzeo, Maitê Proença, algumas jovens intérpretes, cujos nomes ninguém conhece, e Leticia Sabatella.
Vinte minutos depois, Tadeu se apercebeu de que era uma montagem matreira de um manifesto chamado “Gota D’Água”, de 2011, contra a usina de Belo Monte. Tadeu avisou o pessoal. Ouviu de volta: “E eu com isso? Kkkkkk”.
Leticia Sabatella usou sua conta no Facebook para denunciar a pirataria. “Isto é mentira deslavada! De novo fazem mau uso de nossa imagem!”, escreveu. Chamou os organizadores de golpistas. “Eu, Leticia Sabatella, não compactuo com isto!”
Esse mesmo vídeo de Belo Monte foi falsificado no ano passado com outro propósito: apoiar o então candidato Aécio Neves.
A operação foi igual: edição das falas dos atores de modo a parecer que eles estavam defendendo outra causa. Na época, como agora, Sabatella foi a única a reclamar publicamente da palhaçada. “EU NÃO VOU VOTAR EM AÉCIO NEVES!”, escreveu em maiúsculas (imagino se hoje ela não se arrepende de ter gravado com Ary Fontoura, mas essa é outra história).
O apoio fraudulento à campanha de Aécio foi postado no YouTube por várias pessoas — entre elas, um certo “Jorge Scalvini”. Scalvini é um perfil 'fake' que requereu ao YouTube a retirada do nosso documentário Helicoca (leia mais aqui). Depois de denunciado pelo DCM, o fantasma sumiu.
Uma das novas versões falsificadas do “Gota D’Água” foi colocada no ar por uma psiquiatra e psicanalista formada pela UFRJ, moradora do Rio de Janeiro. Ela gosta de Lenine e é seguidora de um tal Canal do Bom Senso, em que um tiozinho destemperado de cavanhaque grita contra a ditadura bolivariana e que tais.
É mais fácil Edir Macedo passar pelo buraco de uma agulha do que encontrar o autor das farsas. O protesto contra Belo Monte ainda vai servir, provavelmente, para muita sujeira.
Uma coisa é certa: como dizia Ian Fleming, o pai do 007, “uma vez é acaso, duas vezes é coincidência, três vezes é ação do inimigo”.
O original:
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