quarta-feira, 2 de julho de 2014

A justa quase-maldição


da vaia ao  hino chileno


Emir Ruivo      
 
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     Torcedoras da elite 'limpinha e cheirosa', embora mal-educada e sem-noção, vaiando o hino do Chile,      no Mineirão, sábado passado
Eu torci muito pelo Brasil. De joelhos, que é a máxima forma de torcer para mim. Mas, em alguns momentos (pênaltis perdidos, bola na trave), achei que uma eliminação poderia ser o resultado mais justo para aquelas pessoas que vaiaram o hino do Chile.
Não era o resultado que eu desejava. Não era justo com os jogadores, com o técnico, com todos os torcedores que não participaram daquele patético comportamento de massa. Mas era justo para eles.
Algumas pessoas no Facebook tentaram defender ou relativizar. Não é verdade que foi só no fim, durante o “acapella”. Houve um ensaio de vaias já no começo do hino. Mas ainda que fosse. Raios, só nós podemos?
Essa edição que a Fifa faz nos hinos não é legal. Tudo bem que eles são longos e chatos, mas afinal alguém inventou de tocar o raio do hino antes dos jogos. Então que toque na íntegra.
Os cortes da Fifa me lembram aquelas edições que as rádios costumavam fazer nas músicas, sobretudo nos anos 90. Naquela época, as rádios eram tudo para o mercado fonográfico. Ou você aceitava a edição, ou não tocava. Até hoje as rádios vêm com a sua vinheta muitas vezes antes do fim das músicas.
Essas edições simplesmente matam toda a intenção artística. É como cortar um pedaço de uma pintura. E nos hinos não é diferente.
E nós gostamos de cantar até o fim. Na verdade, não até o fim – cantamos duas das quatro partes. E parece que os chilenos também. E daí?
Me parece que há uma confusão nessa história. Vaia é normal num jogo. Mas vaia-se o time adversário. Vaia-se, sei lá, a torcida adversária. Vaiar o hino é misturar as coisas.
Um hino é, junto com a bandeira, o maior símbolo pátrio. Vaiar um hino é uma agressão.
Não acredita? Faça o seguinte: ateie fogo numa bandeira da Colômbia na porta do estádio antes do próximo do Brasil e veja se você não será preso. O hino é a representação musical na bandeira. Nem para a bandeira se coloca a mão no coração (por mais ridículo que isso possa ser, mas essa não é a discussão).
Deveria ser, sempre, aplaudido. E depois que xingue-se todos os jogadores, as mães dos jogadores, a avó deles. O cachorro, sei lá. Isso é outra coisa.
É verdade que posteriormente os chilenos também nos vaiaram. Mas coloque-se no lugar deles. Você está cantando o seu hino e de repente vem uma agressão gratuita. Eu vaiaria de volta. É legítima defesa. Como diria meu avô,  reciprocidade.
Agora, claro que não é o fim do mundo. Nada é. A mordida do Suárez não foi, a cabeçada do Zidanne em 2006 também não. Agora, isso não impede que umas mães dêem uns tapas na bunda de seus filhos, ainda que eles tenham 20, 30, 40 anos.
Estão precisando.
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Emir Ruivo é músico e produtor formado em Projeto Para Indústria Fonográfica na Point Blank London. Produziu algumas dezenas de álbuns e algumas centenas de singles. Com sua banda, Aurélios, possui dois álbuns lançados pela gravadora Atração. Seu último trabalho pode ser visto no seguinte endereço: http://www.youtube.com/watch?v=dFjmeJKiaWQ

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