terça-feira, 22 de julho de 2014

O que a venda da Forbes diz


sobre a mídia — a de fora e a


do Brasil

Paulo Nogueira                          

Steve Forbes
Steve Forbes
O caso Forbes – a venda da revista para um grupo de capital chinês — é um marco sob vários aspectos.
O principal deles é o que todos sabemos: a Forbes, uma das marcas mais reluzentes da mídia tradicional, não resistiu à internet.
Como tantas outras marcas da Era do Papel, foi diminuindo, diminuindo, diminuindo até virar nada, ou quase nada.
Ninguém mais lê revistas.
Em seus dias de glória, a Forbes era leitura obrigatória de executivos não apenas dos Estados Unidos, seu berço – mas de todo o mundo.
Jornalistas de negócios não podiam também passar sem ela. Como editor da Exame, sempre tinha a Forbes em minha mesa.
O melhor diagnóstico veio de Steve Forbes, filho do fundador: “Nosso negócio foi tornado obsoleto pela internet.” Foi Steve que comandou a venda.
Houve vários triunfos da esperança, nos últimos anos, para as revistas tradicionais.
Os editores acharam, em certo momento, que a cobrança de conteúdo na internet compensaria, ao menos em parte, o dinheiro perdido na publicidade e na circulação.
Não deu certo.
Mais recentemente, os editores se animaram com a perspectiva de que os tablets seriam a salvação das revistas na era digital.
Também não deu certo.
Os tablets são usados para o consumo de notícias novas, frescas – e não para a leitura de conteúdo antigo de revistas.
Um estudioso de mídia americano usou, ao comentar o caso da Forbes, uma expressão dura e verdadeira: “Não existe bala de prata para a mídia impressa.”
Segundo fontes, a empresa foi vendida por 475 milhões de dólares, cerca de 1 bilhão de reais.
Mas o mercado duvida que essa cifra seja verdadeira. Há a suspeita de que o número seja bem menor.
Por que comprar um negócio que o próprio dono classifica de “obsoleto”? Há, aí, uma questão simbólica. É a China se apropriando de um ícone americano.
É interessante colocar o assunto à luz do mercado brasileiro.
O quadro é, ao mesmo tempo, igual e diferente. Igual na obsolescência que a internet trouxe às revistas.
Diferente nas alternativas colocadas à frente das empresas proprietárias.
Imagine que algum grupo chinês, para ampliar sua presença no Brasil, tivesse interesse em comprar uma editora de revistas.
Não conseguiria. A reserva de mercado que vigora na mídia impede o controle de acionistas estrangeiros.
É uma ironia.
Durante décadas, as grandes companhias de beneficiaram da reserva. A competição de fora foi afastada.
Mas agora o que era uma vantagem competitiva – na realidade uma mamata, mais um dos tantos privilégios – é um obstáculo.
Onde existe, no Brasil, dinheiro suficiente para a compra de uma grande empresa de mídia? A oferta nacional de potenciais compradores é extraordinariamente rarefeita.
Isso pode obrigar os donos a carregar seu negócio até que ele se extinga.
As companhias brasileiras teriam muito mais chances de fazer negócio se pudessem vender para investidores estrangeiros.
Mas não podem.
É um fato doído para seus donos, e também uma espécie de justiça poética.
Paulo Nogueira
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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