sábado, 6 de dezembro de 2014


A decisiva  intervenção   estatal 
na economia  salvou  os EUA  da quebradeira de 1929                  

Saiba como a teoria 'intervencionista' do britânico Maynard Keynes inspirou  o 'New Deal'('Novo Pacto') da campanha de Roosevelt  e garantiu aos norte-americanos promissora sequência de bem-estar social... 
      
Voltaire Schilling                


                                                                      
                            

Com a súbita quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em outubro de 1929, deu-se nos Estados Unidos a mais calamitosa tragédia econômica e social do século passado. É certo que ocorreram outras no passado, mas nenhuma delas atingiu as proporções do 'Big Crash' que devastou quase o mundo inteiro. Os Estados Unidos chegaram a contar 14 milhões de desempregados,  enquanto a Alemanha somou mais de 6 milhões. A extensão e a profundidade dela fez com que as teorias conhecidas até então (as denominadas "clássicas", não-marxistas) se mostrassem impotentes em resolvê-la. Na mentalidade liberal "ortodoxa" então vigente, as crises eram entendidas como coisa temporária, simples "ajustes de mercado", sem maiores conseqüências do que algumas falências e concordatas.


A Grande Depressão, como passou a ser chamada, estendeu-se porém por muitos anos e foi a principal responsável - com a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha em 1933 -, pela eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939-45). Foi em tal cenário desesperador que emergiu a teoria keynesiana. Nascido em Londres em 1883, John Maynard Keynes era um eminente economista inglês que elaborou uma sofisticada fórmula para salvar o capitalismo da depressão em que se encontrava. De 1930 até 1936, ele publicou uma série de artigos e livros (o mais famoso deles foi A Teoria Geral...) procurando mobilizar seus colegas economistas e influenciar os políticos para que seguissem sua receita.

Maynard Keynes
Keynes interpretava a crise como resultado da recusa dos capitalistas em investir. A palavra chave era pois o investimento(*). E porque eles negavam-se a isso? Porque não viam nenhuma perspectiva de retorno lucrativo no que aplicassem. O investimento pois dependia sempre das expectativas futuras. O capitalista, para decidir-se, tinha que levar em conta a evolução e o comportamento do mercado, quanto pagaria de salário, e qual seria o preço das matérias-primas necessárias à produção. Havendo sérias dúvidas a respeito ele optava por não correr o risco. Era preferível guardar o dinheiro, entesourá-lo.

O capitalista afinal era um ser arredio - um animal spirit - que queria sempre acumular mais. Se as circunstâncias não permitissem, ele aguardaria uma situação melhor. Enquanto isso, enquanto ele não se determinava, a sociedade padecia. A ausência de investimento trazia consigo um corolário de desgraças e ameaçava até a sobrevivência do capitalismo, devido a intensificação das lutas sociais, dos protestos, das greves e das ameaças revolucionárias.

Nestas circunstâncias dramáticas, caracterizadas pela falta de demanda efetiva (ninguém encomendava nada, ninguém comprava coisa nenhuma), Keynes pregou a necessidade do estado tomar para si as rédeas da arrancada. Caberia ao Estado, já que o mercado por si só não o fazia, assumir a função da demanda. Ao encomendar grandes obras públicas, ao estimular determinados projetos de impacto (auto-estradas, pontes, ginásios, represas, etc...) o Estado, sob a presidência do 'democrata' Franklin Delano Roosevelt, eleito sob a égide do 'New Deal'('Novo Pacto'), 
  fazia com que o setor privado voltasse a ter vida. Ao empregar gente nas obras públicas, rompia-se com o bolsão do desemprego.
Presidente dos EUA, Franklin Roosevelt
Diminuindo o número dos desocupados, as fábricas, voltando a produzir, reduziam a sua capacidade ociosa. Keynes disse que se inspirou nos faraós do Egito antigo que, através da construção das pirâmides, mantinham a atividade econômica entre os intervalos das colheitas, ocupando as massas em empilhar pedras para glorificar o seu rei.

Um novo cenário otimista inundava a sociedade. A poupança dos capitalistas, entesourada, voltava a ser aplicada. As engrenagens econômicas voltavam então a girar e saia-se da crise, porque restabelecia-se a confiança no futuro e com isso retomava-se os investimentos. É evidente que havia um custo. O Estado era obrigado a recorrer ao déficit público e a uma moderada inflação, mas era um preço módico para sair-se da depressão.
  

Essa função do Estado como elemento fundamental para superar a estagnação, foi considerada uma verdadeira heresia. Na época e até hoje, 
os principais pensadores neoliberais (von Mises, Hayek, Milton Friedman, e outros) condenam Keynes por ter dado relevância ao papel do Estado, pois para eles qualquer intervenção estatal  seria
inaceitável. Nos anos 1930 e, principalmente, depois da Segunda Guerra Mundial, a maioria dos países capitalistas continuou seguindo os ensinamentos de Keynes, na chamada revolução keynesiana, a quem muitos atribuem a notável prosperidade que se conheceu nos Estados Unidos e na Europa nos últimos 50 anos.

(*) O significado do termo investimento para Keynes é bem mais amplo do que comumente é empregado. Não se trata apenas de aplicar um dinheiro. Entendia-o como compra de equipamentos (bens de capital), aceleração da capacidade produtiva e ampliação dos bens de capital.



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