sexta-feira, 19 de dezembro de 2014


Na 'lista da propina' do Estadão,

falta dinheiro, faltam políticos

ou falta verdade  


Fernando Brito            
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Muito estranha a lista dos beneficiários de dinheiro de empreiteiras que trabalhavam para a Petrobras, divulgada hoje pelo Estadão.
Dos valores citados, chega-se à conclusão que os maiores foram para políticos de oposição, em valores que, de forma alguma, poderia ser confundidos com doações eleitorais: Eduardo Campos (R$ 20 milhões) e Sérgio Guerra (R$ 10 milhões).
Supõe-se que, embora hoje ambos estejam mortos, Costa tem os meios de demonstrar como e por quais meios foram feitos os repasses.
Aliás, o mesmo deve se aplicar àqueles que, diz o jornal, “segundo o ex-diretor de Abastecimento, recebiam repasses com frequência ou valores que chegaram a superar R$ 1 milhão”.
Mas, estranhamente, a reportagem afirma que “sobre vários políticos, o ex-diretor da estatal apenas mencionou o nome. Não revelou valores que teriam sido distribuídos a eles ou a suas agremiações”.
Muito pouco para quem está “enojado”, “arrependido” e disposto a “entregar tudo”.
E para quem vai sair livre depois de ter roubado – com todo este “nojo” alegado – R$ 23 milhões de dólares, com a ajuda da família, também perdoada.
Não tenho a menor simpatia por nenhum dos citados – muito ao contrário, na maioria dos casos – mas é preciso discernir entre o que é pedir para conseguir doações e negociar contratos para receber propina.
Porque se pedir doações eleitorais de empresas for crime, dos 513 deputados e 81 senadores sobraria uma dúzia, se tanto.
Nenhuma empresa doará se não se lhe pedir, não é?
Goste-se ou não (viu, Ministro Gilmar Mendes?) é assim que funcionam eleições com financiamento privado de campanhas.
É algo completamente diferente, senão do ponto de vista moral, do ponto de vista jurídico.
O tráfico de influência, juridicamente, liga o pedido à promessa de uma vantagem.
Dizem as metáforas jurídicas que teria vindo de  um certo Vetronio Turino, que vendia supostos favores do imperador romano Alessandro Severo e que foi executado com fumaça, pois fumaça vendia.
Não duvido que os demais políticos citados tenham pedido a Paulo Roberto Costa que conseguisse doações de empreiteiras para suas campanhas.
Centenas de  candidatos a deputado, a senador, a governador, a vereador pediram diretamente ou solicitaram a alguém que pedisse dinheiro a empreiteiras. No mínimo, aceitaram que alguém pedisse em seu nome.
Será que as empreiteiras, as  citadas na Lava Jato  e outras, foram bater espontaneamente na porta de Aécio Neves e dizer “queremos te doar R$ 50 milhões”?
Será que a Odebrecht (diretamente ou através de sua controlada Foz do Jaceaba) doou espontaneamente mais de R$ 7 milhões a Aécio, sem contar os R$ 4 milhões da Braskem, da qual é sócia?
Será que os candidatos mandam pedir ao contínuo das empresas?
Se esta lista for tratada sem hipocrisia, ela é muito pequena.
Se for olhada frente à realidade política, que faz as campanhas mergulharem em tenebrosa promiscuidade, pode-se incluir quem não fez nada além de pedir que pedisse, sem prometer ou acenar com vantagem.
E se for olhada pelo ângulo do dinheiro, está faltando, se chegou à casa dos bilhões que se diz ter chegado.
Tem contra-sensos evidentes, como dar 20 milhões de reais à campanha de um governador e, supostamente, um décimo disso a uma campanha presidencial. Aliás, a Odebrecht deu o mesmo valor às campanhas de Dilma e de José Serra, naquele ano…
Ou  Costa terá prometido conseguir doações para construir uma teia de simpatias para que ele próprio pudesse, “enojadamente”, roubar a Petrobras?
De qualquer forma, a registrar que o “vazamento seletivo”, antes circunscrito aos Ministério Público Federal do Paraná, chegou à Procuradoria Geral da República.
A ver como reagirá o Procurador-Geral Rodrigo Janot a isto.
Porque, se ele mantém estes depoimentos a sete chaves, deve saber quem deles poderia “catar” nomes.
Ou se quem os enviou a ele está fazendo isso, traindo seu dever funcional.

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