terça-feira, 14 de outubro de 2014


Por que o juiz Sérgio Moro

liberou trechos escolhidos

dos depoimentos do ladrão

da Petrobras justo agora?

Paulo Nogueira                        
Em breve, no Supremo?
Em breve, no Supremo, se Aécio vencer?
Um declarado eleitor de Aécio Neves, o advogado criminalista Antonio Carlos de Almeida Prado, o Kakay, disse o seguinte ao blogueiro Josias de Souza, do UOL: “Houve uma grave instrumentalização do Poder Judiciário.”
Kakay estava se referindo à liberação seletiva de trechos dos depoimentos em casos de delação premiada pelo juiz paranaense Sérgio Moro.
Repito: Kakay disse a Josias que vai votar em Aécio. “Até fui a um jantar de adesão. (…) Alternância no poder é importante. Não quero que o Brasil fique fossilizado como São Paulo, administrado há duas décadas pelo PSDB.”
O ponto central de Kakay é: por que parte do vazamento é aberta e parte não, e justamente às vésperas de uma eleição presidencial?
“Parece brincadeira. Aqui, tem segredo. Ali, é tudo aberto. Isto se chama instrumentalização. É muito grave. A poucos dias da eleição, as consequências são gravíssimas.”
Nada foi aberto, por exemplo, em relação ao que os depoimentos trazem sobre Eduardo Campos, cuja família acaba de declarar apoio a Aécio.
Por quê? A resposta mais provável é que por trás dos vazamentos estão razões políticas e partidárias, e não de justiça.
Para Kakay, o juiz Sérgio Moro “está fazendo um jogo extremamente perigoso” – mas não surpreendente.
Moro, no Mensalão, ajudou a juíza Rosa Weber em seus trabalhos. Rosa entrou para a história ao condenar Dirceu com as seguintes palavras: “Não tenho prova cabal contra Dirceu, mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite.”
Neste exato momento, Moro é candidato à vaga de Joaquim Barbosa no Supremo. Eleito Aécio, quais serão suas chances?
Num artigo publicado na Folha algumas semanas atrás, Kakay escreveu que os brasileiros estavam diante da seguinte situação: um delator – Paulo Roberto Costa – poderia ser o “grande eleitor” nas eleições presidenciais.
Com base em acusações não investigadas e nem, muito menos, provadas. Em seu artigo, Kakay imaginava a seguinte situação: e se Costa decidisse, por algum motivo, citar Dilma? Os brasileiros, neste caso, teriam um novo presidente escolhido por um delator.
Na entrevista a Josias, Kakay voltou à mesma lógica, apenas com o juiz Moro no lugar do delator.
“Como deveria ter procedido o juiz?”, perguntou o blogueiro — também ele insuspeito de qualquer simpatia pelo PT.
Respondeu Kakay: “A rigor, ele não cometeu ilegalidade. Os atos praticados nesta semana eram abertos. Mas as características do caso tornam a legalidade apenas aparente. Para evitar a burla à delação, o juiz deveria ter adiado os interrogatórios ou evitado a publicidade dos depoimentos até a eleição.”
Legalidade apenas aparente. É uma frase doída, porque veraz.
Esta é a Justiça Brasileira.
Fala como Justiça, se veste como Justiça, respira como Justiça — só não age como Justiça.
Pobre sociedade. Pobres brasileiros.
Paulo Nogueira
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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