Manchetômetro vai comparar cobertura da reeleição de Dilma
com a de FHC

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Jornalista Janio de Freitas |
Causou furor a reedição de tradicional iniciativa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) de medir o comportamento da mídia durante processos eleitorais. A ideia foi criada em 2006 e, em sua versão de 2014, foi apelidada de “Manchetômetro”.
O estudo, desta feita (2014), foi desenvolvido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP-UERJ), coordenado por João Feres Júnior.
Em 2006, foi criado na mesma Uerj o Observatório Brasileiro de Mídia, coordenado pelo Laboratório de Pesquisas em Comunicação Política e Opinião Pública (Doxa), ligado ao Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj).
O Observatório mensurou o comportamento da mídia durante a disputa entre o então presidente Lula e o, à época, ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin.
Em seu último relatório de 2006, que versou sobre o período de 7 a 13 de outubro, o Observatório revelou que os cinco jornais de maior tiragem do país (Folha de São Paulo, O Globo, O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil e Correio Braziliense) haviam dedicado 533 abordagens à cobertura dos dois principais candidatos a presidente – Lula e Alckmin.
Sobre a totalidade de abordagens de cada candidato, Lula teve 27,3% menções positivas na mídia e 45,1% de negativas. Sobre abordagens dedicadas à candidatura de Alckmin, 27,1% foram positivas e 42,4%, negativas.
Quando o assunto era o governo de Lula, 73,3% das abordagens da mídia foram negativas. No mesmo período, do total das 103 abordagens da Folha de S. Paulo para cada candidato, o presidente Lula teve 33,3% de abordagens positivas e 66,7% de negativas.
Sobre o total de abordagens a sua candidatura, Alckmin teve 27,5% de positivas; 32,5% de neutras e 40% de negativas.
O caso que mais chamou atenção, naquele ano, foi o do jornal O Globo, que dedicou 122 abordagens à cobertura dos dois candidatos. O governo Lula teve 100% de abordagem negativa. Do total de abordagens para cada candidato, Lula teve 45,4% de negativas e Alckmin, 48,8%.
Já segundo o Doxa, que fez uma pesquisa de 1º de fevereiro até 1º de outubro de 2006, a frequência de aparições do então presidente Lula no noticiário de O Globo apresentou abordagens negativas e neutras com frequência que variava entre 30% e 50%, e a frequência de abordagens positivas esteve sempre abaixo de 20%.
Em 2014, por incrível que pareça a situação para o candidato petista a presidente é bem pior. Estudo do Lemep mostra, no gráfico abaixo, uma situação avassaladoramente pior para Dilma Rousseff no conjunto da mídia.
De acordo com o estudo, desde janeiro foram veiculadas 195 manchetes negativas sobre Dilma, enquanto que apenas 15 foram consideradas positivas. Já Aécio Neves (PSDB) recebeu 19 manchetes positivas e 19 negativas. Eduardo Campos (PSB) teve 11 manchetes positivas e 16 negativas.
Apesar dos dados surpreendentes – para os não-iniciados em acompanhamento da mídia –, os grandes meios de comunicação sob escrutínio do laboratório da UERJ não deram uma linha sobre o assunto. O público está sendo “poupado” da notícia de que há estudos científicos que fundamentam a acusação de que a mídia brasileira age como partido de oposição.
Apesar disso, segundo o coordenador da pesquisa a repercussão do “Manchetômetro” o surpreendeu. Feres Júnior relata que o site contendo o estudo, ao completar uma semana no ar, teve cerca de 100 mil acessos.
“Como dizem hoje em dia, estamos bombando! No Facebook e no site. Nós temos página no Facebook e no Twitter. Todo mundo que tem uma razoável boa-fé desconfia de que existe um viés na cobertura que temos na grande mídia no Brasil. Isso é histórico”, ressalta o coordenador do “Manchetômetro”.
Apesar do silêncio sepulcral da mídia sobre um assunto que ela deveria ser a primeira a comentar e, sobretudo, explicar, intramuros esses grandes veículos têm uma explicação para os números escandalosos do “Manchetômetro”.
Feres Júnior relata que, segundo a mídia, os números do estudo não seriam suficientes para afirmar que a presidente da República tem sido injustiçada. Os grandes meios de comunicação – Globo à frente – afirmam que por Dilma ocupar o cargo de presidente seria “natural” que esteja “mais presente” na imprensa que os concorrentes.
Apesar de não ser adequado dizer que ela está “mais presente”, pois o fato é que apanha muito mais, com números que sugerem um verdadeiro linchamento midiático, Feres Júnior anuncia uma iniciativa tira-teima que irá retirar da grande mídia a retórica para “explicar” seu partidarismo. Abaixo, o coordenador da pesquisa explica o que será feito.
“O que vamos fazer em breve para tentar resolver essa questão é analisar a eleição de 1998, em que Fernando Henrique Cardoso concorreu à reeleição. As situações são parecidas e invertidas: antes era o PSDB concorrendo à reeleição, agora é o PT. Aí poderemos comparar melhor. Se descobrirmos que há uma diferença, vai ficar mais do que provado que é, sim, um viés da mídia. Já existem outros trabalhos que mostram que a imprensa se calou naquelas eleições, que ela publicou pouco sobre política. O que queremos é testar isso com nosso trabalho”
O Blog conhece esses estudos, ainda que não os tenha localizado na internet. É possível, entretanto, garantir de antemão que se for pesquisado o comportamento da mídia durante o ano eleitoral de 1998, o resultado será escandaloso. O favorecido, naquele ano, não foi a oposição, mas o governo.
Esses dados poderão ser apurados até com certa facilidade pelo “Manchetômetro”. Em 1998 – e durante os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso –, Globo, Folha de São Paulo, Veja e O Estado de São Paulo eram o que hoje chamam de “chapa-branca”, ou seja, apoiavam furiosamente o governo federal.
Quem diz isso não é o Blog, mas um dos jornalistas mais respeitados do país: Janio de Freitas, colunista do jornal Folha de São Paulo. Em 6 de agosto de 2012, em entrevista ao programa Roda Viva, Janio deu uma declaração que revela o que o “Manchetômetro” irá apurar quando fizer a comparação da cobertura da reeleição de Lula e de Dilma com a de FHC:
“Jornais e revistas serviram de suporte político para o governo Fernando Henrique Cardoso”.
Mais do que isso, à época Janio explicou que, além de apoiar abertamente o então presidente tucano, ajudando-o a se reeleger em 1998 escondendo dos brasileiros que o Brasil estava quebrado, a mídia ajudou a esconder a corrupção e se calou sobre as iniciativas daquele governo para se proteger de investigações.
Episódio ocorrido na mesma semana em que Janio foi entrevistado pelo Roda Viva mostra bem o que foi o governo FHC.
Em agosto de 2012, o ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, afirmou publicamente que “A corrupção não está mais debaixo do tapete” e que, “Hoje, há mais autonomia dos órgãos de fiscalização e controle como o Ministério Público, a Controladoria Geral da União (CGU) e a Polícia Federal”.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de pronto, rebateu a afirmação de Carvalho. À noite, no Jornal Nacional, a reportagem mostrou parte das declarações do ministro e do ex-presidente sobre o assunto. FHC, visivelmente alterado, qualificou como “leviandade” a declaração do adversário político.
Vejamos, pois, quanto de motivos teve o ex-presidente para se irritar assim com a declaração do ministro de Dilma.
FHC, quando governou, foi beneficiário da cumplicidade da mídia, que ajudou a acobertar descaradamente a corrupção ao sonegar ao público notícias sobre escândalos que dispensariam o bom e velho “domínio do fato” devido à vastidão de provas que havia.
Além de FHC ter mudado as regras de jogo com ele em andamento ao propor ao Congresso a emenda da reeleição – o que Lula não se permitiu fazer apesar de ser tratado pela mídia tucana como se tivesse tentado e não conseguido –, ainda teve uma denúncia muito bem fundamentada, com provas materiais, de que deputados foram pagos para apoiá-lo.
Além da Folha de São Paulo, nenhum veículo de peso deu destaque ao escândalo. E o procurador-geral da República de então, que o presidente tucano manteve no cargo por oito anos – Lula, nesse período, nomeou QUATRO procuradores-gerais –, não esboçou a menor reação.
Controladoria Geral da União? No governo FHC chamava-se Corregedoria, em vez de Controladoria, e jamais incomodou o governo, enquanto que a CGU de Lula e Dilma tem sido uma pedra no sapato deles, pedra colocada por eles mesmos no âmbito do esforço hercúleo que fizeram para dar transparência ao que o antecessor tucano escondia.
Polícia Federal? Essa só serviu mesmo para ajudar o governo, ou melhor, o candidato do governo FHC à própria sucessão. Ou alguém esqueceu que a PF só incomodou políticos da oposição durante a era tucana e que seu maior feito foi em 2002, quando destruiu a candidatura de Roseana Sarney para ajudar o candidato governista, José Serra?
FHC esbofeteou a nação ao comparar a omissão criminosa dos órgãos de controle de seu governo (no que tangia a investigá-lo) com a atuação deles hoje. E esse crime foi cometido com o concurso de praticamente toda a grande imprensa, que não só fechou os olhos para a corrupção da era tucana como levantou escândalos só contra a oposição petista.
E se você, leitor, acha que exagero, assista, abaixo, vídeo (completo) de entrevista que o dito “decano do colunismo político brasileiro”, Janio de Freitas, da Folha de São Paulo, concedeu ao programa Roda Viva, na TV Cultura, de São Paulo. Na ocasião, como se verá no vídeo, afirmou que a mídia funcionou como “suporte político” do governo FHC.
Após o vídeo, veja matéria de 2001 da Folha de São Paulo que mostra quem FHC nomeou para a Procuradoria Geral da República, mantendo-o por 8 anos no cargo, período durante o qual sepultou, uma a uma, qualquer tentativa de investigar um governo repleto de escândalos.
'Roda Viva' | com Janio de Freitas | 06/08/2012
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