As pesquisas da transição
Luciano Martins Costa
Os jornais desta quinta-feira (4/9) tentam digerir a divulgação simultânea de duas pesquisas eleitorais, produzidas pelos Institutos Ibope Inteligência e Datafolha. Há discrepâncias entre os dois levantamentos, mas uma tendência comum mostra que a ascensão da candidata do PSB, a ex-ministra Marina Silva, foi interrompida e que o candidato Aécio Neves (PSDB) segue em marcha resoluta para fora da contenda.
O Datafolha, que realizou consultas entre os dias 1º e 3 de setembro, aponta uma situação de empate entre a presidente Dilma Rousseff, com 35%, e Marina Silva, com 34%. Aécio Neves aparece com 14%. No Ibope, que colheu as opiniões entre os dia 31 de agosto e 2 de setembro, Dilma Rousseff tem 37%, Marina Silva, 33% e Aécio Neves, 15%.
A discrepância se concentra, portanto, no total de votos destinados à reeleição da atual presidente da República. Os dois institutos confirmam que o eleitorado abandona a candidatura do PSDB.
Embora a imprensa destaque os números absolutos, neste momento da disputa o ponto mais interessante é aquele que descreve as tendências. Para os dois institutos, Marina Silva parou de crescer, mas ainda venceria Dilma Rousseff num segundo turno. No entanto, há uma diferença no curso de cada candidatura, segundo as visões apresentadas pelo Ibope e pelo Datafolha: no primeiro, comparam-se as situações dos dias 26 de agosto e 2 de setembro; no segundo, observa-se o intervalo entre os dias 29 de agosto e 3 de setembro.
O que houve nesse período? Basicamente, a diferença mais relevante parece ser o debate realizado pela TV Bandeirantes no dia 26 de agosto: a pesquisa Ibope encerrada naquela data não captava a primeira manifestação da candidata do PSB no confronto direto – ainda pouco conhecida, Marina registrou 29% das intenções de voto. Na pesquisa Datafolha encerrada dia 29 de agosto, ela já se beneficiava do maior conhecimento do público, que lhe fora agraciado pelo debate na Band, o que lhe deu o maior impulso, chegando aos 34%.
De 26 de agosto até o dia 2 de setembro, o Ibope registra que a ex-ministra subiu de 29% para 33%, enquanto o Datafolha mostra que ela ficou estacionada nos 34% entre 29 de agosto e 3 de setembro.
A imprensa militante
Isso explica, em parte, porque as curvas parecem tão diferentes. O que pode dar ao observador uma ideia mais aproximada da realidade da disputa é a comparação das declarações de voto com outros elementos, que aparecem marginalmente nos relatos dos jornais. Por exemplo, é preciso considerar o nível de aprovação do atual governo nos diversos períodos em que foram feitas as consultas aos eleitores.
Claramente, os números mostram que a aprovação da presidente Dilma Rousseff aumenta quando ela usa a oportunidade da propaganda eleitoral e dos debates para enfrentar a enxurrada de notícias negativas que a imprensa impõe à opinião geral. Segundo o Ibope, o governo de Dilma Rousseff é considerado “ótimo ou bom” por 36% dos eleitores, enquanto 37% o consideram “regular” e 26% o apontam como “ruim ou péssimo”. No Datafolha, os números são de 36% para “ótimo/bom”, 38% para “regular” e 24% para “ruim/péssimo”.
Essa é a base que explica o fato de que a presidente conta com o maior índice de eleitores convictos (74%), que não a abandonariam na boca da urna, segundo o Datafolha. Além disso, pela mesma razão o Ibope indica que a rejeição à presidente caiu cinco pontos na última semana, de 36% para 31%.
Nas avaliações de governantes, os números precisam ser olhados no contexto da pesquisa, coisa que os jornais não fazem. Por exemplo, num governo sitiado por notícias negativas, somente as opiniões referentes a “ruim ou péssimo” e “ótimo ou bom” podem ser consideradas em seus números absolutos, porque uma porcentagem das respostas dadas para “regular” deve ser considerada como avaliação positiva, no contexto negativo criado pelo noticiário.
Levando-se em conta esses detalhes, os dois institutos indicam um ponto de transição favorável à reeleição da atual presidente. Isso explica, em parte, porque, mesmo entre aqueles que declaram seu voto em outros candidatos, há muitos que acreditam numa vitória de Dilma Rousseff. Isso mostra também como a imprensa hegemônica, como instituição, atua de forma consistente no papel de força política acoplada à disputa eleitoral
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