sexta-feira, 26 de setembro de 2014


Ao PSDB só cabe perder

ganhando, ou perderá 

perdendo

Ion de Andrade       
Luis Nassif Online imagem de Francisco127 

A situação política na qual o PSDB se encontra é das mais graves e se não for manejada com sabedoria poderá representar o fim do partido. Sem querer me arvorar uma preocupação com a saúde política do PSDB, que não tenho aliás, diria que para o Brasil uma representação ideológica da direita, como de alguma forma está sendo gestada no PSDB, é elemento importante da longa luta política a que estamos condenados e que oporá, claramente ou por "personne interposée" (terceiro interposto) a direita e a esquerda, o polo burguês e o popular.
Pessoalmente creio que é incomparavelmente melhor para o Brasil e para a democracia, que a direita se faça representar por um partido com ideologia clara, que não seja mais um eco subdesenvolvido e demagógico de nossa realidade social gelatinosa sempre a misturar o hoje às inacreditáveis e trágicas medievalidades que carregamos como uma nódoa de caju, não há o que a demova... Neste sentido, diria que a única qualidade que enxergo no PSDB na comparação como o DEM e com o PSB que já mudou de lado, aliado às trevas, é a tentativa de constituir-se enquanto um partido contemporâneo da direita com ideologia clara.
Este rudimento de civilidade também está ameaçado quando analisamos o ocaso do PSB pois a direita que espreita é a do coronelismo aliado agora à legião neopentecostal.
O segundo turno da eleição presidencial para o PSDB será comparável a uma cerimônia fúnebre a anteceder o enterro inevitável: a nova hegemonia passadista ditada por PSB aliado ao DEM e às trevas da ignorância, um péssimo negócio para o PSDB e um risco para a evolução social do Brasil que iniciou vôo de consolidação de uma democracia social que deveria ter como fundamento institucional um motor político dominado por uma luta direita esquerda clara e sem subterfúgios.
Alguns consensos "da contemporaneidade" também estariam assegurados nesse bipolo contemporâneo, tais como a laicidade do Estado ou o enfrentamento do trabalho escravo, coisas mais alinhadas á versão medieval da direita denominada, sem humor, de Nova Política.
Portanto, diria que é do interesse da democracia a hegemonia tucana no campo da direita, pois, aqui, diferentemente de muitos países do mundo, convivemos com segmentos direitistas piores do que o PSDB em múltiplos sentidos, Malafaia, Feliciano, Bornhausen e Marina Silva no comando da política conservadora do Brasil protagonizariam uma ideologia do poder pelo poder, não haveria o confronto de modelos de sociedade que permitisse ao cidadão a escolha lúcida de rumos. A manipulação e a demagogia nos fariam retroceder aos anos 30.
Esse é o enigma que o PSDB deverá decifrar, ou será devorado, levando consigo a outra coluna sobre a qual se assenta o Estado de direito ainda nos seus primeiros passos: uma direita contemporânea.
Por outro lado, a vitória de Dilma, sobretudo ocorrendo no primeiro turno, faria távola rasa da pretensa hegemonia que o PSB medievalizado já pretende exercer sobre o campo conservador e funcionaria como um reset, reinaugurando a polaridade certa no campo democrático.
Evidentemente que esse cenário me atrai fortemente, pois sou eleitor de Dilma, mas a presente reflexão não pretende e não poderia ser manipulatória, ou seria ingênua. Estou portanto com Dilma, diga-se em alto e bom som, porém mais do que isto, estou interessado numa evolução de sociedade pela qual a construção do futuro possa ocorrer num campo institucional claro onde as cartas estejam na mesa, o que me parece seja mais viável via PSDB do que via PSB/Malafaia/Bornhausen. Isto é importante para além das candidatura de Dilma ou de Aécio, pois remete ao tipo de sociedade democrática e moderna com que aspiro e na qual por natureza, e não por desejo meu, não pode deixar de existir uma direita legitimamente organizada em seus partidos.
O PSDB protagoniza difícil cenário ou perde a eleição ou perde a hegemonia. É preferível perder a eleição. O problema é que não há no campo da direita hoje nenhum personagem capaz de fazer esta leitura, como talvez Tancredo tivesse feito.
Assegurar a vitória de Dilma no primeiro turno é complexo demais para uma direita tão pequena.

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