Com Marina Silva, a direita (enrustida) saiu do armário
Paulo Metri (*)


O que Sérgio Buarque de Hollanda diria de uma socialista de direita?
Desinibição da direita
A candidata Marina Silva fala em mexer na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), pois, segundo fonte da sua campanha, “estas garantias trabalhistas são um peso para o desenvolvimento”. O mais surpreendente é que ninguém fica ruborizado.
Quantos sindicalistas e políticos socialmente comprometidos lutaram para trazer ganhos para a classe trabalhadora, e que a direita quer ver anulados, agora, com raciocínios tendenciosos e sem debate?
Tudo isto com a roupagem da “nova política”, através de consultas diretas à população, depois da divulgação de teses mal explicadas e manipuladas pela mídia antidemocrática que temos. Acerca de qualquer assunto, esta só divulga a versão do capital. O brasileiro, com a catequese insistente e sem acesso a outra análise dos fatos, fica desinformado e pronto para votar mal em qualquer plebiscito.
Nos últimos oito anos, desde a descoberta do Pré-Sal, por interferência dos governos de plantão, não tinha eco a entrega desta gigantesca reserva por concessão a grupos estrangeiros, através da qual eles só pagam os royalties e ficam com a totalidade do petróleo e a maior parte do lucro.
Pois bem, nesta eleição, chega-se ao auge da sem-vergonhice petulante, ao se propor a entrega por concessão do Pré-Sal, respaldada, mais uma vez, por esta grande criadora de falsas “verdades”, a mídia. Também a Petrobras ser a operadora única do Pré-Sal, o que acarreta a maximização das compras locais, provavelmente terá seus dias contados se Marina ou Aécio ganhar a eleição.
No momento, a direita quer o poder a qualquer custo e, para tanto, não está medindo esforços. A sociedade que se defenda, porque as perdas serão incalculáveis.
Hoje, qualquer crápula, sabedor da impunidade, mesmo se defender os interesses estrangeiros e receitar a miséria aos seus compatriotas, age de forma desinibida. Então, advogam o tripé econômico e outras medidas, sem grandes explicações para a população.
O Brasil passa por um momento crucial, pois uma eleição é sempre definidora do futuro. Pode-se embarcar em um projeto de desenvolvimento com desconcentração de renda e riqueza, na mesma tendência dos últimos três governos, ou “liberalizar” tudo.
Esta palavra, que continha um valor tão positivo no início do século passado, significando a conquista de direitos políticos, foi enxovalhada pelo neoliberalismo e, hoje, significa propostas econômicas causadoras de enormes perdas sociais.
Assim, a direita “saiu do armário” e usa a sua mídia, a única a que a grande massa tem acesso, para atingir a seus objetivos.
Ninguém sabe ao certo qual o verdadeiro programa de governo de Marina, porque as versões dos seus programas têm prazo de validade curto. Além dos temas considerados nobres pelos evangélicos, como criminalização da homofobia e casamento gay, ela titubeia também em relação ao Pré-Sal, à reforma da CLT, ao agronegócio e outros tópicos.
Aliás, uma recomendação que pode ser feita, se você representa um grupo de interesse, cujas reivindicações foram negadas pela candidata, procure mostrar a ela quantos votos o grupo detém e, dependendo do seu valor eleitoral, ela mudará de opinião.
Tendo este modo de agir, ela deveria ter feito um plebiscito para definir seu programa, pelo menos para os itens para os quais os financiadores de campanha não exigem posições, pois ela parece não ter opinião formada sobre nada e adere sempre à posição que traz o maior número de votos.
Resta saber quais serão suas decisões, se eleita, uma vez que quem não tem escrúpulos para mudar frequentemente de opinião antes de eleita, por que os teria depois?
Com relação à independência do Banco Central, ao papel dos bancos públicos e à revisão da lei da Anistia, Marina não titubeou em instante algum, apesar de estar totalmente errada. Com isto ganhou como aliados os novos e os antigos torturadores da população, pois o capital financeiro privado, nacional ou internacional, nada mais é que o novo causador de sofrimento ao povo com técnicas bem mais sutis que as da ditadura.
Marina pertenceu, na maior parte da sua vida política, a um partido que sempre pregou teses opostas às suas atuais. Por exemplo, o PT nunca pregou a autonomia do Banco Central, como tese partidária, e ela nunca reclamou durante os 24 anos em que lá esteve.
Antes que seus adeptos fanáticos digam que nomear Henrique Meirelles significou dar a maior autonomia possível a este banco, lembro que ele era demissível a qualquer momento e ninguém nunca viu Henrique Meirelles indemissível no Banco Central. Esta impossibilidade de demissão da diretoria do banco pelo presidente da República é o que Marina quer fazer.
Marina tem passagem livre em organizações internacionais com objetivos no mínimo questionáveis, como o Diálogo Interamericano. A sua participação em entidades internacionais com supostos propósitos ambientais e supranacionais lhe valeu a emblemática participação na abertura dos Jogos Olímpicos de 2012 em Londres, sem o conhecimento prévio do convite pelo governo brasileiro.
Assim, ela foi uma das oito personalidades mundiais que entraram no Estádio Olímpico na cerimônia de abertura. Sobre este ocorrido, o ministro do Esporte Aldo Rabelo disse: “Marina sempre teve boa relação com as casas reais da Europa e com a aristocracia européia. Não podemos determinar quem a Casa Real vai convidar, fazer o que?”.
Assim, confio no discernimento popular e no seu aprendizado político adquirido nos últimos anos. Ganhando Dilma, resta ao PT fazer uma autoanálise para saber o porquê de ter gerado tanto ressentimento em certas camadas da sociedade, retiradas aquelas que são motivadas pela perda da exploração sobre outras classes.
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