sexta-feira, 18 de julho de 2014

CBF dá um tapa na cara de todos com Gilmar Rinaldi        

Lúcio de Castro, em seu blog      Resultado de imagem para logomarca da espn brasil
Gilmar Rinaldi
"Mata mas não esculacha". Ninguém me contou mas tenho certeza de que foram as palavras de Saddam Hussein ao ser encontrado pelos americanos num buraco em Bagdá. Como um rato. O que eu jamais imaginei é que iria um dia me ver na mesma situação. O 7 x 1 da Alemanha já tinha levado pro buraco. O "mata mas não esculacha" veio ontem, 17 de julho de 2014. Já maltratado e amuado pela escumalha que dirige nosso futebol, sentei-me para ver o anúncio de quem seria o novo coordenador da seleção brasileira. Não que esperasse muito do Zé das Medalhas e Cia. Mas quando Gilmar Rinaldi adentrou sorridente no salão e se confirmou que era ele, entreguei todos os pontos. "Mata logo mas não precisa esculachar tanto assim" era a única coisa que me ocorria.
Só podia ser deboche. No momento mais dramático da história do futebol brasileiro, quando mais do que nunca as coisas tem que passar por uma revolução de ideias, homens e acima de tudo, moral, entra um empresário de futebol, até ali com sua banca virtual de produtos ainda no ar pelas ondas da internet e avisa que ele é o cara que vai tomar conta do galinheiro.
Juro por tudo que é mais sagrado: minha vontade era largar tudo, parar com tanto sofrimento, tanto tapa na cara, tanto desaforo. Mas segui vendo, e não brinco, porque nessas horas temos visões meio alucinadas, nos apegamos nas coisas mais loucas, segui vendo porque por alguns momentos tive a convicção de que a Polícia Federal ia entrar naquela sala de rapel invertido e ia acabar com toda aquela palhaçada. Quase os super homens que iriam nos restituir a glória e as estrelas da camisa e avisar: "perderam, tá todo mundo preso, vocês não podem esculachar tanto assim as pessoas, mexer com o sentimento de tanta gente, ser tão indiferente, tripudiar, ignorar que a tragédia vai crescer".
Não, não aconteceu. O circo nonsense, onde os palhaços somos nós, seguiu. Marin, Del Nero, Gilmar, Gallo...
Enquanto esperava um pé irromper aquela cena descendo uma corda, Gilmar comprovava que não mudou muito em relação ao sujeito que cedeu Adriano (com 19 anos) e Reinaldo por Vampeta (verdade que depois foi ser empresário de Adriano), aquele que achou grande negócio romper com Romário na vigência do contrato (o clube paga até hoje) e aquele que foi o gestor da carreira de Adriano. Em sua fala mais profunda, afirmou que com ele o time não usaria boné com dizeres incentivando Neymar, fora do jogo, e sim Bernard, que estava em campo. (agora pensa bem, imagina todo time da Argentina com boné "Força Enzo Pérez", o substituto de Di Maria, contundido! O que o sujeito ia pensar? Que é café com leite, que precisa disso?) Com efeito, poucas vezes vi algo tão ridículo. É esse sujeito que vai comandar a revolução.
Escolher um empresário de jogadores tem o simbólico de dar um tapa na cara de todos. E foi feito de propósito, imagino que com risadas nos bastidores. Para exibir a impunidade. Não basta ser impune. Tem que execer a impunidade. Desafiar. No tempo do "funk ostentação", queriam ostentar que não estão nem aí pra todo mundo. Sendo Gilmar, o esculacho foi maior. Empresário e como gestor, um zero à esquerda. Assim foi feito.
Depois veio o Gallo, o homem que hoje pensa o futebol brasileiro. Que subiu muito no conceito dos cartolas da CBF na Copa do Mundo. Felipão, que não pode falar nada porque vendeu seus jogadores baratinho quando falava pra jornalistas sobre problema emocional e sobre suas convicções em relação ao grupo, diz que foi vendido por Gallo. E assim vai nosso futebol, de acusação de trairagem em trairagem....
Complementando a pantomima, Gallo citou o "gap" umas 10 vezes.
O novo guru do futebol brasileiro é aquele mesmo que avisou logo ao assumir a seleção que jogador não pode usar brinco, cortar cabelo assim ou assado. É esse o pensamento do guru.
E por incrível que pareça, vi parte de nossa imprensa já tolerante com Gilmar e Gallo. Gostando e impressionada com o discurso do picolé de chuchu Gallo.
Provavelmente a mesma parte da imprensa adesista e frouxa que há um mês deslumbrava-se com os métodos de motivação e a parte táticade Felipão. E que achava normal a nossa Weggis serrana instalada na Comary, com seus 24 homens da CBF/TV passeando pela privacidade de recantos sagrados da concentração, com os barracões de patrocinadores e seus clientes apinhados no lugar de trabalho, os treinos ridículos sempre escancarados.
O momento é muito mais dramático do que se pensa. As eliminatórias logo ali na esquina, com todos os adversários em iguais condições e agora sem medo da "amarelinha" lembram que, se acharam que o 7 x 1 foi o fundo do poço, a primeira não ida para um Mundial pode mudar esse conceito e a fundura do buraco.
E algo que ainda não pararam para pensar e é razoável imaginar que comece a acontecer: traumatizados por tudo que passaram, traumatizados por treinarem com técnicos com repertório atualizado em seus times e aqui encontraram gente que nem dar treino mais sabe, por terem seu prestígio arranhado por aqui se apresentarem como turma que se juntou pra pelada, tudo isso em nome de um amor por uma camisa que o entorno deles desmente, bastando apenas olhar para os urubus na carniça que só veem na seleção grande oportunidade de negócios, será que esses jogadores seguirão tendo razão para tanto bate e volta, de Londres para La Paz, de Madri para Bogotá, encarando sufoco e times mais organizados, perigando serem humilhados e ainda ficarem na história como os que não levaram o Brasil para um Mundial? Tudo isso em nome do patriotismo que tem como líderes Marin, Del Nero...Qual é a razão hoje para imaginar que é obrigação passarem por isso, depois de tudo o que passaram agora? E quem não estava, viu tudo o que ocorria? (afinal, assim como na música de Chico, onde "só Carolina não viu", no processo de treino da Copa, só nossa imprensa não viu!).
E saber que quando penarem e pagarem pela indigência tática de nossos treinadores, terá gente dizendo que são "emocionalmente frágeis", quando estiverem impiedosamente dominados, terá gente falando em suas transmissões que "e ainda tem gente que diz não existir problema emocional" e desculpando o treinador, terá gente consultando psicólogos, terá debate sobre isso. Ah, o tal do jornalismo, como faz falta...Por que passarão por tudo isso?
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Esses dias lembrei do Barcelona x Santos de 2011. O massacre na final do Mundial de Clubes. Fui rever um texto que fiz naqueles dias. Estava indignado que, diante do massacre, tivesse gente falando em "complexo de vira-latas", "psicológico", etc. Não acreditei ao reler. Era tudo tão atual, tudo tão igual a hoje. É assim a nossa história. É sempre um prazer para alguns falar que somos uns frágeis emocionais, um Zé Povinho, uma sub raça. E deixamos de ouvir o que um gênio como Pep Guardiola falou. Perdemos ali mais três anos. Perdemos ali talvez a chance de ter um gênio, o homem que mudou o futebol ao fazê-lo voltar para suas origens e responde, como entidade pelos dois últimos títulos mundias, Espanha 2010 e Alemanha 2014.
Ficamos com o esculacho da CBF. Em breve teremos gente vendo qualidade no trabalho de Gilmar e Gallo, o grande pensador do nosso futebol. A que horas a polícia vai descer de rapel invertido e acabar com isso? Vai ser esse esculacho mesmo? Peço que nos matem. Já nos mataram. Mas sem esculacho. 

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